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Irmã Nabila, de Gaza: "Estamos a arriscar as nossas vidas a cada minuto".

Nabila Saleh, religiosa da Congregação do Rosário de Jerusalém, residente em Gaza, partilha com Omnes a situação extremamente difícil da região. O Papa visita diariamente a paróquia da Sagrada Família na zona, que se tornou um verdadeiro "campo de refugiados".

Federico Piana-5 de novembro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta
Nabila gaza

Foto: Irmã Nabila Saleh

A Irmã Nabila sai de vez em quando. Se, mesmo que por um momento, o bombardeamento lhe dá descanso, ela sai da paróquia da Sagrada Família e caminha com o coração na garganta pelas ruas devastadas e fantasmagóricas. Edifícios reduzidos a um monte de escombros, sangue e morte. 

Gaza já não existe, ou quase. 

O ritmo de Nabila Saleh é rápido. A religiosa da Congregação do Rosário, em Jerusalém, sabe que ficar na rua, ir à procura de comida ou verificar se a escola onde leccionou até há poucas semanas com as suas companheiras não está a ser saqueada e vandalizada, pode também significar nunca mais voltar à única igreja latina da cidade, que se tornou um refúgio para 600 cristãos. Pobres cristãos que perderam tudo, já não têm casa, muitas vezes nem sequer filhos. E os filhos já nem sequer têm pais.

"Têm medo. Têm nos olhos as imagens da paróquia ortodoxa grega atingida pelas bombas. Dezoito cristãos morreram nesse dia, incluindo oito menores. Os feridos foram acolhidos aqui por nós", conta a Irmã Nabila ao Omnes.

Crianças que também estão a cargo

Entre o grupo de 600 pessoas desesperadas, há também 100 crianças, muitas delas deficientes e a necessitar de cuidados especiais e contínuos. Estas são as crianças cuidadas pelas freiras da Madre Teresa, que encontraram alojamento com pessoas idosas que cuidam delas 24 horas por dia.

Paróquia da Sagrada Família em Gaza

"Precisamos de tudo aqui", explica a freira, "porque nos falta comida, água, medicamentos. Não temos mais combustível: temos combustível suficiente para mais uma semana e depois não sabemos o que vai acontecer. A situação é muito difícil, com os bombardeamentos estamos a arriscar as nossas vidas a cada minuto. 

Nenhum sítio é seguro

O relato de Nabila torna-se ainda mais dramático quando revela que a escola da cidade que a sua congregação dirige tinha acolhido refugiados muçulmanos nas suas salas de aula no início da guerra, mas depois "tivemos de abandonar tudo porque a escola fica perto de um hospital atrás do qual há um posto militar do Hamas e os bombardeamentos intensificaram-se na mesma zona".

Felizmente, dada a impossibilidade de chegar ao hospital, há quatro médicos na Sagrada Família que se ocupam dos feridos. E fazem-no incansavelmente e com grande dificuldade.

A esperança não morre

A paróquia latina de Gaza pode ser considerada um verdadeiro campo de refugiados. Para a gerir com amor e devoção, há um grupo quase exclusivamente feminino, diz a religiosa: "Três irmãs da Congregação do Rosário, duas irmãs do Verbo Encarnado e três irmãs da Madre Teresa. Depois, há um religioso, o Padre Iusuf, o vigário da paróquia.

O pároco, padre Gabriele Romanelli, ficou retido em Jerusalém quando a Faixa foi encerrada, mas não perde a oportunidade, mesmo à distância, de encorajar e consolar os seus fiéis. As pessoas", acrescenta a Irmã Nabila, "não perderam a esperança. Frequentam as duas missas diárias na nossa igreja e rezam o Santo Rosário com fervor.

A proximidade do Papa

A pessoa que atende o telefone quando o Papa Francisco telefona para a paróquia - quase todos os dias - para se inteirar da situação é normalmente a própria Nabila. "Contamos-lhe tudo o que se passa aqui. Falar com ele e saber que está a rezar por nós dá-nos coragem e força para continuar.

As pessoas, diz a religiosa, "quando sabem que o Papa telefonou, agradecem a Deus. Vivem tudo isto com grande alegria.

O autorFederico Piana

 Jornalista. Trabalha para a Rádio Vaticano e colabora com L'Osservatore Romano.

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