No dia 1 de setembro de 2024, a Igreja celebra o Dia de Oração pelo Cuidado da Criação. Este ano, o lema escolhido pelo Papa Francisco é "Esperar e agir com a criação". Como explica o Pontífice no mensagem publicado para esta ocasião, o motivo principal "refere-se à Carta de S. Paulo aos Romanos 8, 19-25, onde o apóstolo esclarece o que significa viver segundo o Espírito e centra-se na esperança segura da salvação pela fé, que é a vida nova em Cristo".
Tomando estes versículos do Bíbliadiz o Papa, podemos começar "com uma simples pergunta": "Como é que temos fé? E responde que "não é tanto porque 'acreditamos' em algo transcendente que a nossa razão não consegue compreender", mas "é porque o Espírito Santo habita em nós".
Francisco desenvolve esta afirmação dizendo que "o Espírito é agora verdadeiramente 'a antecipação da nossa herança', como uma pro-vocação para viver sempre orientada para os bens eternos". É precisamente por esta razão que "o Espírito torna os crentes criativos, pró-activos na caridade". E, com esta caridade, os cristãos são introduzidos "num grande caminho de liberdade espiritual" que os faz compreender que "são filhos de Deus e podem dirigir-se a Ele chamando-Lhe 'Abbá, isto é, Pai'".
Isto, diz o Santo Padre, deve encher-nos de esperança, porque "o amor de Deus venceu, vence e continuará sempre a vencer". Apesar da perspetiva da morte física, para o homem novo que vive no Espírito, o destino da glória já é certo.
A fé como uma tarefa
Por isso, afirma o Papa, "a existência do cristão é uma vida de fé, diligente na caridade e transbordante de esperança". No entanto, isto não é motivo para que o discípulo de Cristo se torne complacente. "A fé é um dom", explica o Papa, "mas é também uma tarefa, que deve ser realizada em liberdade, em obediência ao mandamento de amor de Jesus".
Esta realiza-se "nos dramas da carne humana sofredora", sublinha o Bispo de Roma. "A salvação cristã entra nas profundezas da dor do mundo, que afecta não só os seres humanos, mas todo o universo.
Por isso, continua Francisco, "toda a criação está envolvida neste processo de um novo nascimento". Deste modo, a caridade do cristão "deve estender-se também à criação, num 'antropocentrismo situado', na responsabilidade por uma ecologia humana e integral, caminho de salvação da nossa casa comum e de nós que nela vivemos".
Libertação do homem, cuidado com a criação
O Santo Padre sublinha na sua mensagem que "a libertação do homem implica também a libertação de todas as outras criaturas que, solidárias com a condição humana, foram submetidas ao jugo da escravatura". Neste sentido, "na redenção de Cristo é possível contemplar com esperança o vínculo de solidariedade entre o homem e todas as outras criaturas".
Por isso, continua o Papa, "o Espírito Santo mantém a comunidade crente alerta e instrui-a continuamente, chamando-a a uma conversão dos estilos de vida, para que se oponha à degradação humana do ambiente".
É importante, portanto, que o homem seja dócil ao Espírito Santo, porque a obediência a Ele "muda radicalmente a atitude do homem de 'predador' para 'cultivador' do jardim". Deste modo, o homem pode evitar aquela "forma de idolatria" que consiste em "pretender possuir e dominar a natureza, manipulando-a à vontade".
"Por isso - diz Francisco - o cuidado da criação não é apenas uma questão ética, mas também eminentemente teológica, pois diz respeito ao entrelaçamento do mistério do homem com o mistério de Deus". Do mesmo modo, "há uma motivação transcendente (teológico-ética) que compromete o cristão a promover a justiça e a paz no mundo, também através do destino universal dos bens: é a revelação dos filhos de Deus que a criação espera, gemendo como que em dores de parto".
Com e para a criação
O Papa conclui a sua mensagem resumindo claramente o lema do Dia de Oração pelo Cuidado da Criação. "Esperar e agir com a criação significa, portanto, viver uma fé encarnada, que sabe entrar na carne sofredora e esperançosa dos homens, participando na expetativa da ressurreição corporal a que os crentes estão predestinados em Cristo Senhor".
Os católicos, conclui o Santo Padre, devem aspirar a "uma vida santa", "uma vida que se torna um cântico de amor a Deus, à humanidade, com e para a criação, e que encontra a sua plenitude na santidade".