Vaticano

Pietro Angelo MuroniA liturgia revela o mistério e abre-nos à presença de Cristo".

Nesta entrevista para Omnes, o Professor Pietro Angelo Muroni, reitor de Teologia da Pontifícia Universidade Urbaniana, esboça os pontos-chave de Desiderio Desideravi, o documento sobre a formação litúrgica de todos os fiéis.

Federico Piana-13 de Julho de 2022-Tempo de leitura: 3 acta
liturgia de muroni

Foto: Pietro Angelo Muroni

Acabo de ler a recente carta do Papa Francisco ao Povo de Deus sobre a liturgia, intitulada "Desiderio desideravi, O Professor Pietro Angelo Muroni, decano de Teologia da Pontifícia Universidade Urbaniana, autor de numerosos livros sobre fé e espiritualidade e sacerdote da diocese de Sassari, estava certo de que a importância deste documento reside no facto de não se dirigir apenas à hierarquia eclesiástica: "Afecta - diz - todo o Povo de Deus, porque a formação litúrgica deve dizer respeito a todos, deve envolver todos. O Papa diz: a liturgia é a dimensão fundamental para a vida da Igreja". Tanto assim, explica Don Muroni, que a carta "não quer ser um tratado de teologia litúrgica, não quer ter um pendor académico. Em vez disso, o Papa quer que seja um elemento de reflexão para contemplar a beleza e a verdade da celebração cristã".

Professor, então o Papa está a chamar o povo de Deus para regressar à verdadeira essência da liturgia?

- De facto. O Papa chama o povo de Deus a regressar ao espírito da liturgia, como o teólogo Romano Guardini o definiria. Não há muito tempo, o Papa recebeu em audiência os membros do Instituto Litúrgico Pontifício por ocasião do 60º aniversário da sua fundação e disse-lhes: tenham cuidado quando a liturgia se tornar um campo de batalha para questões que não são essenciais ou mesmo obsoletas. Por esta razão, o Pontífice, confrontado com o perigo da mundanização espiritual, que também abordou na sua primeira exortação apostólica Evangelii GaudiumO Parlamento Europeu quer exortar-nos a todos a considerar a integridade do que celebramos.

Quais são os outros elementos importantes do presente documento?

- Em primeiro lugar, salienta-se que a liturgia é a Obra de Deus, na qual Deus envolve o homem. Ponto número 7 do Sacrosanctum Concilium Ele diz: nesta grande obra, na qual Deus, através do rito, alcança o homem a fim de o salvar, Cristo une a sua Igreja, a sua noiva. Portanto, é Deus que nos estende a mão mas, ao mesmo tempo, Deus envolve a Igreja. Outro elemento importante do documento é precisamente o convite para redescobrir a beleza da liturgia. Neste sentido, já no Evangelii GaudiumO Papa Francisco tinha sublinhado o facto de que a Igreja evangeliza - e evangeliza a si mesma - através da beleza da liturgia.

O que significa o documento quando fala de beleza?

- Uma beleza, explica o Papa na carta, que não é a procura de estética, de formas bonitas. Embora, sem dúvida, o liturgia deve ser belo, não deve ser negligenciado. A contínua redescoberta da beleza da liturgia significa a redescoberta da beleza do mistério de Cristo celebrado na liturgia. Temos de vir a ser movidos pela liturgia, o que significa ir além da mera observância de regras e normas.

A encarnação é outro elemento importante?

- Sim, porque a encarnação é o fundamento teológico da fé cristã, mas também de toda a liturgia. Ou seja, a liturgia não é desencarnada; a liturgia exprime-se através da humanidade do homem e é também expressa através de gestos, atitudes, sinais e símbolos que fazem parte da vida do homem.

É bonito o que o Sacrosanctum Concilium no nº 83: Cristo, ao assumir a natureza humana, trouxe para esta terra de exílio aquela canção que é cantada eternamente nos lugares celestiais. A encarnação de Cristo torna-se o vínculo pelo qual nos unimos a Ele para nos unirmos ao Pai e à Igreja celestial.

Será que o documento também se aprofunda na redescoberta do significado do mistério?

- De facto, é. O Papa pede-nos que tenhamos cuidado com a expressão fumegante 'sentido de mistério'. Por vezes, salienta o Pontífice, a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II é acusada de ter eliminado o sentido do mistério na celebração. Mas qual é, para nós, o mistério? A literatura paulina explica-nos que o mistério de Deus é Cristo, o próprio Cristo que revelou o Pai.

É portanto óbvio que o liturgia para nós permanece transcendente, o homem nunca poderá penetrar profundamente no que é celebrado na liturgia. Mas Cristo também veio através da liturgia, através dos sacramentos, para se revelar, não para se esconder. A liturgia revela o mistério e abre-nos à presença de Cristo na sua Palavra, na espécie eucarística, no sacerdote, no povo de Deus.

A carta também menciona a formação. Porque é que isto é importante?

- Se não houver formação litúrgica, não se pode compreender com o coração o que se está a celebrar. Se não compreendo o que estou a fazer na liturgia, é difícil para mim respeitá-la. A formação é essencial, especialmente em seminários. Receio que certas derivas, como o Pelagianismo e o Gnosticismo, que se infiltram na liturgia também dependam de uma falta de formação. Se educarmos bem os futuros sacerdotes no verdadeiro significado da liturgia, teremos, como consequência, leigos formados no verdadeiro significado da liturgia. Pelo contrário, teremos padres que vivem a liturgia como algo a ser feito. Como diz o Papa nesta carta, devemos ser formados para a liturgia, mas também ser formados com a liturgia.

O autorFederico Piana

 Jornalista. Trabalha para a Rádio Vaticano e colabora com L'Osservatore Romano.

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