A periferia no centro

Face ao aparente conflito entre o Islão e o Ocidente, o Papa apela à fraternidade entre cristãos e muçulmanos como o caminho para a paz. Ele repetiu isto em África.

27 de Janeiro de 2016-Tempo de leitura: 2 acta

"Os cristãos e os muçulmanos são irmãos". Estas palavras de Francisco tornaram-se uma das frases-chave de uma viagem apostólica a África que conseguiu mais uma vez transformar completamente a geografia e colocar a periferia no centro do mundo. Uma mensagem com um núcleo espiritual e também uma provocação concreta sobre um dos aspectos mais complexos da mudança em que estamos imersos: a relação entre cristãos e muçulmanos. Uma relação de parentesco, de fraternidade, para Francisco; mas uma relação que trai o terrorismo islamista que ensanguentou a Europa. Faz-nos pensar porque é que até os irmãos se matam uns aos outros quando não se reconhecem como filhos do mesmo pai. A revolução francesa foi vestida com o fraternidade como de uma bandeira eficaz, mas em nome dela muitos irmãos acabaram na guilhotina.

A fraternidade que leva à paz tão frequentemente invocada em terras africanas pelo Papa Francisco é, pelo contrário, completamente diferente. Nasce do reconhecimento no outro, alguém que é bom para mim porque me traz algo de bom. Exactamente o oposto da convicção de que os jihadistas, que são levados à perseguição de uma utopia violenta: imaginam um mundo livre de toda a diversidade, porque deixam viver apenas aqueles que são idênticos à sua ideia de como viver. Não admite a alteridade. Talvez, se não nascer um irmão, possa tornar-se um irmão. É o que testemunham aqueles que educam a vários níveis: torna-se um irmão ou irmã, descobre-se que há algo de bom para mim na pessoa à minha frente, através de uma educação paciente e ousada, que não é sinónimo de "instrução". Se aprender a ler e a fazer contas é fundamental, a educação verdadeiramente útil é a integral: prevê o cuidado da pessoa que pede para ser acompanhada para descobrir o prazer de viver em plenitude, para empreender uma viagem com os outros para além dos limites da tribo, para entrar numa relação, para confiar e para assumir riscos.

O autorMaria Laura Conte

Licenciatura em Literatura Clássica e Doutoramento em Sociologia da Comunicação. Director de Comunicação da Fundação AVSI, sediada em Milão, dedicada à cooperação para o desenvolvimento e ajuda humanitária em todo o mundo. Recebeu vários prémios pela sua actividade jornalística.

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