Ao longo da vida, todos temos de descobrir quem somos, de onde vimos e para onde vamos. A maioria de nós segue caminhos previsíveis, típicos e cómodos. Não é o caso de Fernando Gutierrez, um verdadeiro buscador da vontade divina. Muitos dos que o conhecem dizem que é a pessoa mais providencialista que alguma vez conheceram. Hoje, 12 de outubro, este leigo missionário inicia uma nova viagem, desta vez da Cantábria a Belém. Ele conta a história em @peregrinoabelen
Quem é Fernando Gutiérrez?
Que pergunta. Vou responder dizendo-vos de onde venho e para onde vou. Cresci em Madrid, no seio de uma família católica. Estudei com os Passionistas e os Jesuítas. Aos 17 anos, afastei-me conscientemente de Deus. A droga começou a fazer parte da minha vida e as minhas relações com as raparigas eram um desastre. Cheguei a ser expulso da universidade... A minha vida era guiada pelo prazer e pelo divertimento.
E o que te fez mudar de vida?
Conhecer a cerca de Melilla e a vida das pessoas que fogem de África em busca de uma vida melhor na Europa. Depois de estudar jornalismo, vivi nessa cidade e acabei por contar as histórias de quem está do outro lado da nossa fronteira. Mais tarde fui cobrir o Conflito de Gaza que eclodiu em 2014. Sempre quis ser jornalista de guerra e, apesar de ainda não me ter reconciliado com Deus, a minha experiência africana levou-me a perguntar a Deus o que é que ele me queria dizer com todo o sofrimento que via à minha volta.
Qual era o passo seguinte?
Confessei-me e fui para Calcutá, porque sempre me senti atraído pela dedicação da Madre Teresa, que tinha conhecido através dos meios de comunicação social. Nos meus 30 anos, passei um ano com as Missionárias da Caridade na Índia e renasci verdadeiramente para o Senhor.
O que é que aprendeu na Índia?
Confiar em Deus e procurar a sua vontade. A minha vida sacramental e de oração cresceu graças ao contacto que tive com os mais necessitados. Aprendi a viver a partir de Deus, embora seja obviamente algo que tenho de redescobrir todos os dias. Não sou um modelo de nada, isso é claro para mim.
Na Índia, Nossa Senhora também colocou no meu coração o desejo de cuidar das crianças pequenas, aquelas de quem ninguém cuida e que são os filhos de Maria.
E foi por isso que fundou a Missão dos Filhos de Maria?
Bem, sim, esse foi o resultado final. Antes disso, porém, entrei para o seminário das Missionárias da Caridade e passei quatro anos muito felizes em Roma e no Quénia, até que chegou o momento em que vi que a vontade de Deus para mim era fundar a Mary's Children Mission em Nairobi. Consagrei-me como missionária leiga e fundei um lar com 15 camas para cuidar de adolescentes grávidas e formá-las em algumas competências que lhes permitissem cuidar de si próprias e dos seus filhos. Também passo muito tempo a evangelizar crianças.
E de que é que eles vivem e como é que isso é financiado?
Na família das Missionárias da Caridade aprendi a viver da providência e este espírito acompanha-me desde então. Para dizer a verdade, vivemos de dia para dia e sem pedir, mas o Senhor é sempre grande connosco e envia-nos tudo o que precisamos. Muitas pessoas que ouviram falar de nós enviam-nos donativos.
Durante os dois anos de missão, nunca estive sozinho. Houve sempre voluntários que me acompanharam e que, ao regressarem aos seus países de origem, se tornaram embaixadores do projeto.
Bem, como estou a ver que não pergunta, vou publicar um ligação para o sítio Web de doações no caso de algum leitor se sentir chamado a ajudar...
(Risos). Muito obrigado.
E agora decidiste ir a Belém, por que razão?
A missão no Quénia está a correr bastante bem e sinto que não devo ficar agarrado a ela. Deus enviou outra pessoa que se consagrou e que pode levá-la por diante. Como não sabia bem o que fazer, decidi ir viver em Belém durante algum tempo para discernir a vontade de Deus. Foi lá que nasceu a criança mais importante da história e sinto que Deus me chama a estar lá para ver qual é o próximo passo que ele quer para a minha vida.
E de onde vem a ideia de caminhar para Belém a partir de Santo Toribio?
Pois bem, há anos que sou amiga de Carlota Valenzuela, que há dois anos fez uma peregrinação a pé a Jerusalém. Atualmente, organiza peregrinações de grupos a Santo Toribio de Liébana. Este verão fui a uma delas e senti que Deus me pedia para caminhar da cruz até Belém, porque na caminhada cristã não há vida sem cruz.
Bem, é evidente que a sua lógica não é deste mundo... O que espera encontrar nesta viagem?
Muitas coisas, de facto, porque serão muitos meses. Acima de tudo, estou aberto aos dons de Deus. Confiei nele, mas isso não quer dizer que não sinta o medo da incerteza. Afinal, é uma viagem longa, vou sem dinheiro e peço alojamento a quem mo quiser dar.