César David Villalobos é natural de Diocese de Cabimasna Venezuela. Como ele próprio salienta "O seminário não era um projeto para mim. Tinha estudado engenharia informática e telecomunicações. Dediquei-me ao trabalho mas, ao longo dos anos, senti um vazio que o dinheiro ou o trabalho não conseguiam preencher.
Como é que decidiu entrar no seminário?
-A minha família era, como muitas outras, "católicos ligeiros". Só iam à igreja para os baptismos, as primeiras comunhões e os funerais. Com o tempo, regressei à minha paróquia e comecei a viver a missa e a adoração eucarística. Conheci um grupo apostólico cujo carisma é o estudo das Sagradas Escrituras, a evangelização, a adoração eucarística e a contemplação. Ali, na adoração e na intimidade com Jesus na Eucaristia, compreendi que o que faltava na minha vida era o amor dos amores.
Pouco a pouco, incluí Jesus no meu coração e, com um pouco de medo, decidi experimentar o seu estilo de vida e responder ao chamamento para a vocação do sacerdócio. Aos 26 anos, entrei no seminário propedêutico da minha diocese de Cabimas, na Venezuela. Passados alguns anos, o meu bispo decidiu enviar-me para estudar na Universidade de Navarra e formarme no Colégio Eclesiástico Internacional de Bidasoa.
Na Venezuela, a Igreja está a passar por momentos difíceis. Como é que os fiéis e os sacerdotes estão a viver estes tempos?
-A missão e o trabalho espiritual dos padres hoje é uma tarefa ampla, porque eles se tornaram grandes esperanças para um povo que está muito fraco e cansado. A tarefa principal é evangelizar o povo, mas também procurar formas de ajudar e assistir as pessoas mais necessitadas. A vida do padre venezuelano tem um "s" maiúsculo de sacrifício.
A fé vive-se na Venezuela. A grande precariedade que preenche os nossos dias não a extingue. Os paroquianos pedem a celebração dos sacramentos. Os movimentos apostólicos dentro da paróquia estão a ser renovados e, como todos, olhamos para Jesus como esperança. Impressionantemente, os jovens continuam a ser o grande pulmão da paróquia.
Quais são os desafios que a Igreja venezuelana enfrenta?
-É claro que a situação na Venezuela é uma situação reservada, com muitas dificuldades e grandes desafios que têm de ser resolvidos de forma adequada.
A Igreja venezuelana enfrenta vários desafios no contexto atual. Em primeiro lugar, a Venezuela está a viver uma crise humanitária sem precedentes, marcada pela escassez de serviços básicos e pela violência. A Igreja Católica procura apoiar a população afetada e prestar assistência humanitária dentro de certos limites.
Além disso, a polarização política na Venezuela afectou todas as instituições do país. Neste sentido, a Igreja deve manter a sua imparcialidade e continuar a promover o diálogo e a reconciliação entre as partes em conflito.
Paralelamente, a Igreja na Venezuela tem experimentado limitações à sua liberdade religiosa. A sua árdua tarefa é manter o respeito e a defesa dos direitos dos cidadãos, manifestando o direito à liberdade de culto.
Hoje, com tantos desafios para os venezuelanos, a Igreja procura reconciliar, mas também consolar e elevar orações pelos nossos irmãos e irmãs venezuelanos que caíram em busca de uma vida melhor.
O país está imerso numa crise institucional e política devido à falta de uma solução consensual para a crise política. O trabalho incansável dos sacerdotes venezuelanos sempre foi o de conseguir, por intercessão dos santos, a reconciliação de todos os venezuelanos. Ansiamos por uma paz que nos garanta uma vida de bem-estar social e desenvolvimento profissional.
Como é que a formação em Espanha ajuda o seu trabalho?
-Tudo na vida do seminário é formativo. Temos de procurar sempre algo para aprender. Cada hora que dedico à minha formação penso no meu país, na minha diocese de Cabimas, no meu povo e nos meus irmãos seminaristas. O meu coração é a bandeira nacional. Será de grande utilidade ajudar e transmitir com caridade o que aprendi. É uma oportunidade de Deus que, através do meu bispo, eu possa estudar e depois ajudar e dar tudo de mim.