Família

Primazia da pessoa e da família

Como disse São João Paulo II, "a família é chamada a ser o primeiro lugar onde cada pessoa é amada por si mesma, valorizada pelo que é e não pelo que tem".

José Miguel Granados-5 de Outubro de 2021-Tempo de leitura: 3 acta
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Foto: Sandy Millar / Unsplash

Da ágil caneta de Charles Dickens - frequentemente transformada no aríete do aríete de Charles Dickens - vem a caricatura cómica de hipócritas enganadores, como o Sr. Seth Pecksnif, no romance Vida e aventuras de Martin Chuzzelwit. É um vigarista enganoso, dotado de uma retórica profusa e espantosa de decepção. Ele finge ser um mestre da arquitectura. Ele mascara com a sua loquacidade teatral fatuita de gestos pomposos as intenções mais ávidas. As suas filhas Caridade e Misericórdia, sujeitas a um "modelo" tão deplorável, colherão os frutos amargos do cinismo e da ganância do seu pai.

A lógica do presente

Honestidade e coerência na vida e na linguagem são essenciais para uma comunicação interpessoal profunda e enriquecedora. Isto é exigido pela dignidade da pessoa humana - o seu mais alto valor - que surge precisamente da sua condição de sujeito pessoalmente amado pelo Criador. A vocação correlativa de cada ser humano consiste em entregar-se generosamente aos outros, procurando o verdadeiro bem do outro. 

Assim ensinou o Concílio Vaticano II: "O homem, a única criatura na terra que Deus amou para si mesmo, só pode encontrar a sua própria realização na doação sincera de si mesmo aos outros." (constituição Gaudium et spes, n. 24). A lógica do dom decifra o mistério do ser humano, à luz da manifestação e do dom divino, que culmina na efusão de bênçãos com Cristo, o Verbo encarnado (cf. Ef 1,3-14); Gaudium et spes, n. 22).

Por conseguinte, qualquer forma de utilização de alguém com interesse próprio é uma negação radical do seu estatuto. É imoral rebaixar ou reduzir um ser humano a um instrumento. Mesmo que sejam utilizadas justificações retóricas para disfarçar motivos hedonistas indecentes, pragmáticos, económicos, eugénicos, etc. 

Neste sentido, João Paulo II formulou com ênfase aquilo a que chamou a "norma personalista": "A pessoa nunca deve ser considerada um meio para atingir um fim; nunca, acima de tudo, um meio de "prazer". A pessoa é e deve ser apenas o fim de cada acto. Só então é que a acção corresponde à verdadeira dignidade da pessoa". (Carta às famílias, n. 12).

A família é chamada a ser o primeiro lugar onde cada pessoa é amada por si própria, valorizada pelo que é e não pelo que tem (cf. João Paulo II, Homilia da Missa para as Famílias, 2-11-1982). Deve ser o primeiro lugar onde o ser humano é bem-vindo, onde a lógica perversa da competitividade de exclusão que marginaliza os fracos é ultrapassada, e substituída pela dinâmica da aceitação incondicional, protecção, educação apropriada e promoção para a melhoria e excelência de cada membro. Além disso, a família de sangue tem a missão de transmitir a toda a sociedade este tratamento familiar e delicado de cada membro da família humana.

Diálogo honesto

O projecto de vida conjugal e a coexistência da comunidade familiar exigem uma abertura a um autêntico e profundo intercâmbio pessoal. Qualquer forma de duplicidade, de falta de intenção correcta, de utilização do vizinho, impede a construção de uma casa. A boa comunicação é indispensável na tarefa de procurar as melhores formas de crescer em conjunto e assim desenvolver ao máximo as capacidades de cada membro da comunidade.

Francisco afirma que "O diálogo é uma forma privilegiada e indispensável de viver, expressar e amadurecer o amor na vida conjugal e familiar. Mas requer uma longa e difícil aprendizagem. Homens e mulheres, adultos e jovens, têm formas diferentes de comunicar, usam linguagem diferente, movem-se com códigos diferentes. A forma de fazer perguntas, a forma de responder, o tom utilizado, o momento e muitos outros factores podem condicionar a comunicação. Além disso, é sempre necessário desenvolver certas atitudes que sejam uma expressão de amor e tornem possível um diálogo autêntico". (exortação Amoris laeitita, n. 136).

Oração familiar

A oração cristã, entendida como o diálogo do crente com o Deus Trinitário que é uma comunhão de Amor e comunicação na intimidade pessoal, fomenta uma compreensão da vida humana em toda a sua grandeza, como um esforço para partilhar o seu mundo interior com os outros, na troca de uma relação de doação pessoal. A relação de confiança com o bom Deus Pai melhora as atitudes e relações humanas. 

Além disso, na oração conjugal e familiar, o outro é descoberto em toda a sua grandeza como pessoa e como uma ajuda oportuna, como um presente para sair do isolamento estéril e crescer juntos: para aceitar e apoiar o plano de Deus, a sua história de amor connosco. 

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