Evangelização

Pregação ao estilo da publicidade?

É possível transmitir uma mensagem profunda em apenas um minuto? Numa época em que a capacidade de atenção se desvanece rapidamente, o desafio de comunicar com brevidade e eficácia torna-se mais relevante do que nunca.

Agustín Sapriza-19 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta
pregação

O cardeal Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, faz a homilia. @CNS/Lola Gomez

Durante a Quaresma do ano passado, fiquei espantado ao ouvir o sermões de um minuto do antigo pregador pontifício durante seis dias. Ao ouvi-los, perguntei-me: será possível dizer alguma coisa em tão pouco tempo?

A resposta é dada com solvência por este pregador. Com uma folha de papel nas mãos, ele fala, quase lê, um texto que preparou, e usa algumas palavras do Evangelho como ponto central. 

Estamos perante um desafio aparentemente impossível: transmitir uma mensagem num curto espaço de tempo. Isto também é feito por oradores que dão palestras TED de cerca de doze minutos. Aconselha-se que a homilia dure menos de dez minutos. O Papa Francisco repetiu-o muitas vezes, dizendo numa audiência geral: "A homilia deve ser breve: uma imagem, um pensamento, um sentimento. Uma homilia não deve durar mais de oito minutos, porque depois desse tempo perde-se a atenção e as pessoas adormecem, e ele tem razão".

Pregação breve

Há algum tempo, li um pequeno livro intitulado: Say it in six minutes, de Ron Hoff. Trata de reuniões de executivos e de abordagens económicas para pessoas que estão demasiado ocupadas para terem tempo de ouvir uma longa palestra.

Não sei se é possível dizer seja o que for em tão pouco tempoTambém é verdade que, atualmente, se a mensagem dura mais de um minuto, parece não ter fim. 

Que ideias retirei dessa pregação de um minuto?

A primeira é a necessidade de preparar muito bem o texto, ou mesmo de o ter escrito na íntegra.

A forma como o lê, com um tom amável, com um rosto sorridente, não está a repreender, não está a questionar, está a propor com serenidade e gentileza. Parece quase espontâneo, uma conversa com um amigo.

Outra consideração é o poder das palavras de Jesus: a partir de uma breve frase do Evangelho é possível estruturar toda uma mensagem. Não há dúvida de que os Evangelhos são o livro mais lido de todos os tempos, quatro textos muito curtos, cheios de tantas imagens, parábolas, sinais, slogans, frases que transcendem a sua origem para estarem presentes na vida de todos: dai a César o que é de César, não saiba a vossa mão direita o que faz a vossa mão esquerda, façamos três tendas, homem de pouca fé, vinde e vede, porque chorais, não semeeis joio, eles não têm vinho, é uma ovelha perdida, este é o filho pródigo, caia fogo do céu, homens de pouca fé, e por aí fora. 

Voz e discurso

Lembro-me que há uns anos, à procura de textos que explicassem o segredo de falar em público, encontrei um que dizia: "pronúncia, pronúncia, pronúncia". Parece simples...

É óbvio que a comunicação verbal depende do tom de voz do comunicador, mas também é necessário um bom conteúdo, não se trata apenas de atrair a atenção, mas de transmitir uma mensagem.

Por vezes, ouço oradores muito bons - é um prazer ouvi-los - mas o que me fica é que a mensagem foi um verdadeiro labirinto de frases encadeadas de uma forma maravilhosa, deixando no final apenas o sabor da delícia de um discurso espirituoso, divertido, ágil, mas...

Estamos perante o desafio de transmitir a nossa mensagem, e queremos fazê-lo de uma forma que chegue ao ouvinte, que o interpele. É verdade que estamos perante uma tarefa que, para dar fruto, requer a ação do Espírito, mas é preciso ajudar o Espírito, porque não será possível fazer passar uma mensagem clara se o que eu disser for uma intrincada sucessão de palavras que se desviam de toda a lógica e que, pretendendo chegar a todos, chega a todos com algo ininteligível.

O público

Além disso, enfrentamos também um outro desafio, estamos a falar para um público heterogéneo, cada um tem a sua própria história, a sua própria forma de receber a mensagem, naquele momento pode ou não estar motivado e, além disso, o ouvinte tem um conhecimento prévio do orador, que nem sempre será positivo e se é conhecido pessoalmente: ninguém é profeta na sua própria casa.

Ouvimos sempre com mais atenção o orador que chega do estrangeiro, de outra cidade, e que fará a conferência principal, onde também contará as melhores anedotas da sua vida, e que chega com uma auréola de prestígio e que regressará ao seu local de origem.

A chave, atrevo-me a dizer, para fazer passar a mensagem é desenvolvê-la como um thriller, algumas ideias sugerindo outras que não sei como nem quando virão, através de cenas interligadas, sem deixar a atenção do ouvinte esmorecer, sem dar tudo por garantido, sem dizer tudo o que tenho a dizer à partida, e deixando uma porta aberta para que a mensagem continue a ressoar, como se fosse uma música que brota de dentro de nós.

Este é um exemplo de um orador de primeira categoria que foi encorajado a transmitir um texto de um minuto, que deixa uma ideia, mas, para ser sincero, é tão breve que a mensagem deixa pouco sabor, embora seja muito sugestiva.

Para concluir, gostaria de dizer que toda a transmissão verbal é misteriosa. Por vezes, vemos um vídeo de um minuto ou um minuto e meio e ficamos surpreendidos com a quantidade de coisas que ele transmite. É o tempo da publicidade.

Teremos de aplicar a linguagem da publicidade à forma como transmitimos as nossas ideias? Talvez esta conclusão seja um pouco simplista, mas talvez valha a pena tentar.

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