O padre Pablo López tem uma vasta experiência em plataformas digitais como "Jóvenes Católicos" e "Hallow", seguidas por milhões de milhares de jovens. Acaba de publicar Como falar de Deus nas redesum guia prático para comunicar o espiritual no domínio digital. Em vez de oferecer receitas mágicas, convida-nos a semear questões, a inspirar reflexões e a abrir diálogos profundos que transcendam a transitoriedade das redes sociais. Num mundo dominado pelo imediatismo e pelos conteúdos efémeros, o desafio de falar de Deus nas redes sociais torna-se uma oportunidade única.
Como é que surgiu a ideia de ligar Deus a uma rede social como o Instagram, que é frequentemente associada à superficialidade?
-Foi uma proposta da editora e, desde o início, adorei o projeto, pois dedico parte do meu trabalho pastoral à evangelização nas redes sociais e constato diariamente a sua eficácia. O meu interesse por este campo nasceu durante a pandemia, tentando acompanhar os jovens à distância.
Refere que o livro não é uma receita mágica, mas um convite a repensar a forma como comunicamos o sagrado. Que erros comuns cometem aqueles que tentam falar de espiritualidade nas redes sociais?
Um erro é concentrar-se na procura de seguidores e tentar fazer posts "clickbait". O evangelismo requer falar do coração e da experiência e há coisas que não podem ser encaixadas em formatos "fáceis".
É preciso chegar ao coração das pessoas e o Espírito Santo faz isso. Quem evangeliza em rede vê a desproporção entre o seu trabalho e os frutos que produz. Lembro-me de uma rapariga que se tratou durante sete anos de uma anorexia grave, incluindo internamentos hospitalares. Telefonou-me a dizer que se tinha curado rezando com os conteúdos do canal. Ao rezar, tudo desaparecia. Depois, entrou para uma ordem religiosa. Os pais dela não são crentes e estão espantados com a mudança.
Fala sobre este tipo de histórias no livro?
-Sim, a peça está cheia de anedotas chocantes. Por exemplo, uma rapariga no 2º ano do Bachillerato, numa aldeia da Estremadura, engravidou e as amigas encorajaram-na a abortar. Contactou-nos quando o seu filho nasceu para nos agradecer: as meditações da aplicação tinham-na encorajado a ser corajosa e a enfrentar as consequências. Disse-nos que o seu filho era a maior dádiva da sua vida.
Há pessoas que dizem que, graças a um vídeo, não se suicidaram; outras que, graças a uma canção, pediram desculpa à mãe depois de muito tempo; e, claro, muitas pessoas que voltam a confessar-se depois de anos ou décadas.
Na sua experiência de trabalho em plataformas como a Juventude Católica e a Hallow, que estratégias foram mais eficazes para estabelecer uma ligação com os jovens através do digital?
-Em primeiro lugar, é preciso ser coerente e oferecer uma variedade de conteúdos e formatos. Na Hallow, fazemos um áudio por dia, mas também oferecemos canções, pequenas dicas, comentários sobre o tempo litúrgico, entrevistas e podcasts. Em suma, é preciso fazer tudo para que cada pessoa seja fisgada pelo que mais gosta ou pelo que melhor se adapta às suas circunstâncias.
Não há necessidade de fazer tudo ao mesmo tempo. É preferível que as coisas sejam curtas e envolventes, não longas e densas. Tal como as homilias não podem durar 15 minutos, é preferível que durem 5 minutos e que tenham uma história que as pessoas possam recordar depois e que lhes facilite o regresso.
É o mesmo com as redes sociais, tem de ser curto, caso contrário as pessoas passam para outro rolo, por isso é essencial começar com um início inovador. Por exemplo, um dos nossos vídeos começa assim: "Olá, o meu nome é Krishna, nasci e cresci na comunidade Hare Krishna e passei de fumar charros constantemente para ir à missa todos os dias".
Fala da importância de semear perguntas em vez de simplesmente acrescentar conteúdo. Que tipo de perguntas considera mais adequadas para inspirar a reflexão do público?
-O segredo não está tanto no tipo de perguntas, mas no facto de que, ao deixar perguntas em aberto, está a convidar o ouvinte a continuar a pensar por si próprio. Além disso, as perguntas abertas geram muita interação nos comentários ou nas pessoas que lhe escrevem em privado.
Por último, enquanto padre e pessoa com uma audiência digital considerável, como equilibrar a utilização das redes sociais com o tempo necessário para a oração e a reflexão pessoal?
-Bem, graças a Deus, não tenho de dedicar muito tempo a fazer vídeos, posso dedicar meia hora mais ou menos por dia: 10 minutos ao Instagram, quanto mais 20 (nunca vou ver as histórias de ninguém, nem ver os reels nem nada). Se gastasse mais, sei que estaria a perder tempo e sou muito mais "offline" do que parece, faço desporto todos os dias e uma atividade pastoral divertida (risos). No entanto, reconheço que trabalhar em equipa é fundamental. Tenho dois colaboradores que dedicam mais tempo a isso do que eu.