Ao longo da história, muitos Papas falaram da importância da Bíblia como meio de aproximação a Cristo, Palavra do Pai. Neste artigo, centramo-nos nos três Papas mais recentes: São João Paulo II, Bento XVI e Francisco.
São João Paulo II
São João Paulo II falou em numerosos discursos sobre a centralidade da Sagrada Escritura como meio de conhecer Jesus Cristo na vida cristã. Um exemplo é o seu discurso mensagem à Federação Bíblica Católica Mundial, em 14 de junho de 1990, na qual explicou que o centro das Escrituras é a Palavra, Jesus Cristo: "A Bíblia, Palavra de Deus escrita sob a inspiração do Espírito Santo, revela, dentro da tradição ininterrupta da Igreja, o plano misericordioso de salvação do Pai, e tem no seu centro e no seu coração a Palavra feita carne, Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado". Além disso, o Papa identificou a Bíblia com o próprio Cristo, afirmando que "ao dar aos homens a Bíblia, dar-lhes-eis o próprio Cristo, que sacia aqueles que têm fome e sede da Palavra de Deus, da verdadeira liberdade, da justiça, do pão e do amor".
Por outro lado, S. João Paulo II sublinhou a importância de "abordar constantemente a Bíblia como fonte de santificação, de vida espiritual e de comunhão eclesial na verdade e na caridade", afirmando que a Sagrada Escritura suscita vocações, é também o "coração da vida familiar", inspira "o empenhamento dos leigos na vida social" e é a "alma da catequese e da teologia".
Além disso, na audiência geral de 1 de maio de 1985, o Papa recordou a constituição do Concílio Vaticano II "Dei Verbum", na qual se afirmava que "Deus, que falava outrora, continua sempre a falar com a Esposa do seu Filho predileto (que é a Igreja); Assim, o Espírito Santo, através do qual a voz viva do Evangelho ressoa na Igreja e, por meio dela, no mundo inteiro, leva os fiéis à plenitude da verdade e faz com que a palavra de Cristo habite neles intensamente" (Dei Verbum, 8)" (Dei Verbum, 8).
No entanto, embora a Palavra de Deus seja um meio eficaz e indispensável para nos aproximarmos de Cristo, São João Paulo II sublinhou também a importância de nos aproximarmos dela e de a lermos sempre à luz da Igreja, sem nos basearmos em interpretações pessoais ou subjectivas. Neste sentido, o Pontífice explicou que a "garantia da verdade" foi dada "pela instituição do próprio Cristo [...] à Igreja. [A todos é revelada, neste domínio, a misericordiosa providência de Deus, que quis conceder-nos não só o dom da sua auto-revelação, mas também a garantia da sua fiel conservação, interpretação e explicação, confiando-a à Igreja".
Bento XVI
O Papa Bento XVI O Presidente do Parlamento Europeu sublinhou também a importância da Bíblia na aproximação a Cristo: "Ignorar a Escritura é ignorar Cristo", explicou, citando São Jerónimo na audiência geral de 14 de novembro de 2007.
A esta frase, Bento XVI acrescentou que "ler a Escritura é conversar com Deus", mas, tal como São João Paulo II, sublinhou a importância de ler a Bíblia à luz da Igreja: "Para São Jerónimo, um critério metodológico fundamental na interpretação da Escritura era a harmonia com o magistério da Igreja. Nunca podemos ler a Escritura sozinhos. Encontramos demasiadas portas fechadas e caímos facilmente no erro. [Em particular, como Jesus Cristo fundou a sua Igreja sobre Pedro, cada cristão", concluiu, "deve estar em comunhão 'com a Cátedra de São Pedro'. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja'".
A este respeito, é muito importante a exortação apostólica "Verbum Domini" de Bento XVI, de 2010, que reúne as conclusões do Sínodo sobre A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.
Entre outras coisas, o Papa sublinhou também, tal como João Paulo II, o núcleo cristológico da Sagrada Escritura: "A Palavra eterna, que se exprime na criação e se comunica na história da salvação, tornou-se em Cristo um homem 'nascido de uma mulher' (Gal 4,4). Aqui, a Palavra não se exprime principalmente em discursos, conceitos ou normas. Trata-se da própria pessoa de Jesus. A sua história única e singular é a palavra definitiva que Deus dirige à humanidade. [A fé apostólica testemunha que o Verbo eterno se fez um de nós".
Papa Francisco
Seguindo esta linha, o Papa Francisco também nos exortou, em numerosas ocasiões, a encontrar Cristo nas Escrituras.
O atual pontífice explicou, no seu discurso à Federação Bíblica Católica, a 26 de abril de 2019, a importância de a Igreja ser "fiel à Palavra", dizendo que, se a cumprir, não se coibirá "de proclamar o querigma" e não esperará "ser apreciada". "A Palavra divina, que vem do Pai e é derramada no mundo", empurra a Igreja "até aos confins da terra", afirmou Francisco.
Além disso, o Papa encorajou em várias ocasiões as pessoas a familiarizarem-se com a Bíblia e a lê-la pelo menos cinco minutos por dia, uma vez que "não é apenas um texto para ser lido", mas "uma presença viva". Por isso, mesmo que a leitura se reduza a pequenos momentos por dia, o Papa sublinha que é suficiente, porque esses breves parágrafos "são como pequenos telegramas de Deus que tocam imediatamente o nosso coração". A Palavra de Deus "é um pouco como uma antecipação do paraíso". Por isso, se a relação do cristão com ela vai além do intelectual, há também uma "relação afectiva com o Senhor Jesus", identificando, como nos textos de outros Papas acima citados, a Sagrada Escritura com Cristo.
"Tomemos o Evangelho, tomemos a Bíblia nas nossas mãos: cinco minutos por dia, não mais. Levem um Evangelho de bolso convosco, na vossa mala, e quando viajarem, peguem nele e leiam um pouco, durante o dia, um fragmento, deixem que a Palavra de Deus se aproxime do vosso coração. Fazei isto e vereis como a vossa vida mudará com a proximidade da Palavra de Deus", concluiu o Papa a sua reflexão na audiência geral de 21 de dezembro de 2022.
De facto, Francisco afirmou que a Palavra de Deus é para a oração e que, através da oração, "acontece uma nova encarnação da Palavra. E nós somos os 'tabernáculos' onde as palavras de Deus querem ser acolhidas e guardadas, para visitar o mundo".
Propôs o mesmo para o Domingo da Palavra de Deus, 26 de janeiro de 2020: "Abrimos espaço dentro de nós para a Palavra de Deus. Leiamos um versículo da Bíblia todos os dias. Comecemos pelo Evangelho; mantenhamo-la aberta em casa, na mesinha de cabeceira, levemo-la no bolso ou na carteira, vejamo-la no ecrã do telemóvel, deixemos que ela nos inspire diariamente. Descobriremos que Deus está perto de nós, que ilumina as nossas trevas e que nos guia com amor ao longo da nossa vida".
Noutras ocasiões, o Santo Padre também se perguntou: "O que aconteceria se usássemos a Bíblia como usamos o telemóvel, se a tivéssemos sempre connosco, ou pelo menos o pequeno Evangelho no bolso? Francisco respondeu que, "se tivéssemos a Palavra de Deus sempre no coração, nenhuma tentação poderia afastar-nos de Deus e nenhum obstáculo poderia fazer-nos desviar do caminho do bem; saberíamos vencer as sugestões quotidianas do mal que está em nós e fora de nós" (Angelus de 5 de março de 2017).
Uma iniciativa muito relevante do Papa Francisco, que reflecte a importância que atribui à leitura da Sagrada Escritura entre os cristãos e o seu desejo de a tornar um hábito quotidiano, é a oferta de Evangelhos de bolso, em particular durante o Angelus de 6 de abril de 2014.
Nas suas intervenções anteriores, o Papa tinha sugerido que se levasse sempre consigo um pequeno Evangelho "para o poder ler com frequência". Francisco decidiu, portanto, seguir uma "antiga tradição da Igreja", segundo a qual, "durante a Quaresma", era entregue um Evangelho aos catecúmenos que se preparavam para ser baptizados. Desta forma, apresentou aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro um Evangelho de bolso: "Tomai-o, levai-o convosco e lede-o todos os dias", encorajou o Papa, "é precisamente Jesus que vos fala ali. É a Palavra de Jesus.
Francisco encoraja então a dar de graça o que se recebe de graça, com "um gesto de amor gratuito, uma oração pelos inimigos, uma reconciliação"?
Voltando a identificar as Escrituras com o próprio Cristo, o Papa concluiu: "O importante é ler a Palavra de Deus [...]: é Jesus que nos fala nela".