No público em geral Em 27 de maio de 2015, o Papa Francisco definiu o namoro como: "O tempo em que os dois são chamados a fazer uma boa obra de amor, uma obra partilhada e participativa, que vai até ao fundo. Ambos se descobrem lentamente, mutuamente, ou seja, o homem 'conhece' a mulher conhecendo esta mulher, sua esposa; e a mulher 'conhece' o homem conhecendo este homem, seu noivo".
Comentou também que o relato bíblico do Génesis fala de toda a criação como uma obra do amor de Deus; a partir dessa imagem, compreende-se que o amor de Deus, do qual provém o mundo inteiro, não foi algo feito de ânimo leve. "Não! Foi uma bela obra. O amor de Deus criou as condições concretas para uma aliança irrevogável, sólida, destinada a durar". Da mesma forma, a aliança de amor entre um homem e uma mulher leva tempo, não é algo instantâneo, por isso "é preciso trabalhar o amor (...)". Por outras palavras, a união amorosa entre o homem e a mulher é cultivada e aperfeiçoada ao longo do tempo. "Deixem-me dizer que é uma aliança feita à mão. Fazer de duas vidas uma única vida é quase um milagre, um milagre da liberdade e do coração, confiado à fé".
O amor é uma relação
A 14 de fevereiro de 2014, no seu discurso aos noivos que se preparavam para o matrimónio, o Papa Francisco, em resposta a uma pergunta sobre se é possível amar para sempre, comentou: "Mas o que entendemos por 'amor'? Será apenas um sentimento, um estado psicofísico? Claro que, se for isso, não é possível construir nada sólido sobre ele. Mas se o amor é uma relação, então é uma realidade que cresce, e podemos mesmo dizer, a título de exemplo, que se constrói como uma casa. E a casa constrói-se em conjunto, não sozinho. Construir aqui significa encorajar e ajudar a crescer.
É interessante notar que um ano antes, na sua primeira carta encíclica ".Lumen fidei" n. 27, já tinha expressado algo semelhante: "Na realidade, o amor não pode ser reduzido a um sentimento que vai e vem. Tem certamente a ver com a nossa afetividade, mas para a abrir à pessoa amada e iniciar um caminho, que consiste em sair do isolamento do próprio eu e ir ao encontro do outro, para construir uma relação duradoura, o amor tende para a união com a pessoa amada. Assim se vê em que sentido o amor precisa da verdade. Só na medida em que se funda na verdade é que o amor pode perdurar no tempo, superar a fugacidade do momento e permanecer firme para dar consistência a um caminho comum. Se o amor não tem nada a ver com a verdade, está sujeito à influência dos sentimentos e não resiste à prova do tempo.
O amor verdadeiro, pelo contrário, unifica todos os elementos da pessoa e torna-se uma nova luz para uma vida grande e plena. Sem verdade, o amor não pode oferecer um vínculo sólido, não pode levar o eu para além do seu isolamento, nem libertá-lo da fugacidade do momento para construir a vida e dar frutos".
No quarto capítulo da exortação apostólica "...".Amoris laetitia"O Papa Francisco comentou que, no Hino à Caridade de São Paulo, encontramos "algumas caraterísticas do verdadeiro amor". Parafraseando-o, ele apresentou algumas indicações para os cônjuges que levam à caridade conjugal. Considerando o namoro, nas palavras do Pontífice, como um "caminho de preparação para o matrimónio", é necessário que os noivos também as conheçam para trabalhar o amor da sua relação.
O primeiro ponto do hino é a paciência. O Papa sublinhou que, impulsionada pelo amor, a paciência é reforçada quando reconhecemos "que o outro também tem o direito de viver nesta terra juntamente comigo, tal como é", deixando de lado o desejo perfeccionista e a ambição de ter tudo como se quer.
A segunda é a atitude de serviço. Indicou que a paciência conduz a uma atitude ativa, "dinâmica e criativa em relação aos outros", traduzida numa atitude de serviço, porque "o amor beneficia e promove os outros".
Na terceira, sublinhou que o amor leva a olhar para o outro com os olhos de Deus, curando a inveja e conduzindo à alegria pelo bem do outro.
Relativamente ao quarto e quinto pontos, explicou que o amor leva a "não se exibir nem se tornar grande", pois ajuda a estar no seu devido lugar sem procurar ser o centro.
Em seguida, abordou os quatro pontos seguintes. Sublinhou que "amar é tornar-se amável"; "a delicadeza é uma escola de sensibilidade e de abnegação, que exige que a pessoa cultive a sua mente e os seus sentidos, aprenda a sentir, a falar e, em certos momentos, a calar-se". Neste contexto, encorajou a observar e a aprender a linguagem suave de Jesus. Depois, o amor "não procura o seu próprio interesse", "pode ir para além da justiça e transbordar livremente sem esperar nada em troca".
Além disso, o amor leva a não se irritar; é uma atitude que nasce "de uma violência interior, de uma irritação não manifestada que nos torna defensivos em relação aos outros, como se fossem inimigos incómodos a evitar". Depois, "não tem em conta o mal", o amor sabe perdoar; uma forma que nasce de "uma atitude positiva, que tenta compreender a fraqueza dos outros e procura encontrar desculpas para o outro, como fez Jesus quando disse: 'Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem' (Lc 23,34)".
Concluiu esta explicação do hino com os seguintes pontos. Sublinhou que o amor leva a "alegrarmo-nos com os outros". "Se não alimentarmos a nossa capacidade de nos alegrarmos com o bem dos outros e, sobretudo, se nos concentrarmos nas nossas próprias necessidades, condenamo-nos a viver com pouca alegria. Do mesmo modo, o amor "desculpa tudo". Este termo distingue-se de "ignorar o mal" porque se refere ao uso da linguagem, que por vezes pode implicar saber "calar" as faltas dos outros.
Neste sentido, "os cônjuges que se amam e pertencem um ao outro, falam bem um do outro, tentam mostrar o lado bom do seu cônjuge para além das suas fraquezas e erros". Além disso, "o amor acredita em tudo", "confia". A confiança torna possível uma relação saudável, com liberdade e um horizonte alargado, porque "o amor confia, deixa em liberdade, renuncia a controlar tudo, a possuir, a dominar".
Outra das caraterísticas que sublinha é que "o amor espera tudo", não se impacienta perante o futuro. Nasce de uma atitude que "indica a expetativa de quem sabe que o outro pode mudar", dando assim origem à esperança no outro. E, por fim, "o amor tudo suporta". Refere-se a "permanecer firme no meio de um ambiente hostil". É "amar apesar de tudo, mesmo quando todo o contexto convida ao contrário".
Como se constrói o amor
Francisco, no discurso Aos noivos, em fevereiro de 2014, depois de explicar o significado do amor, encorajou os noivos a crescerem juntos, a construírem uma casa e a viverem juntos para toda a vida. Advertiu-os para que não construíssem essa casa "sobre a areia dos sentimentos que vão e vêm, mas sobre a rocha do amor autêntico, o amor que vem de Deus". Explicou também que a família nasce deste projeto de amor, que deve crescer como se constrói uma casa. "Que seja um lugar de afeto, de ajuda, de esperança, de apoio. Como o amor de Deus é estável e eterno, assim também o amor que constrói a família é estável e eterno. família Queremos que seja estável e para sempre. Ele também revelou o segredo para curar o medo do "para sempre":
"Cura-se dia após dia, entregando-se ao Senhor Jesus numa vida que se torna um caminho espiritual quotidiano, construído por passos, pequenos passos, passos de crescimento comum, construídos com o compromisso de se tornarem mulheres e homens maduros na fé. Porque, queridos noivos, o "para sempre" não é apenas uma questão de duração. Um casamento não se realiza apenas se durar, mas a sua qualidade também é importante. Estar juntos e saber amar para sempre é o desafio dos esposos cristãos.
Em conformidade com o acima exposto, em 26 de setembro de 2015, no discurso Na Festa das Famílias e na Vigília de Oração em Filadélfia, o Papa explicou que o amor é uma aprendizagem que procura crescer: "Não há famílias perfeitas e isso não nos deve desencorajar. Pelo contrário, o amor aprende-se, o amor vive-se, o amor cresce 'trabalhando-o' de acordo com as circunstâncias da vida que cada família concreta está a viver.
O amor nasce e desenvolve-se sempre entre a luz e a sombra. O amor é possível em homens e mulheres concretos que procuram não fazer dos conflitos a última palavra, mas uma oportunidade. Uma oportunidade para pedir ajuda, uma oportunidade para nos perguntarmos onde temos de melhorar, uma oportunidade para descobrir o Deus connosco que nunca nos abandona.
Este é um grande legado que podemos deixar aos nossos filhos, um ensinamento muito bom: cometemos erros, sim; temos problemas, sim; mas sabemos que isso não é o fim. Sabemos que os erros, os problemas, os conflitos são uma oportunidade para nos aproximarmos dos outros, de Deus.
Um ano mais tarde, na Amoris laetitia n. 134, Francisco insistia: "O amor que não cresce começa a correr riscos, e nós só podemos crescer respondendo à graça divina com mais actos de amor, com actos de afeto mais frequentes, mais intensos, mais generosos, mais ternos, mais alegres". Por outras palavras, é "um caminho de crescimento constante".
O namoro como "um percurso de vida".
Na audiência geral de 27 de maio de 2015, o Papa disse que a aliança de amor entre homem e mulher não se improvisa, não nasce de um dia para o outro, "é preciso trabalhar o amor, é preciso caminhar". Francisco explicou que Deus, quando fala da aliança com o seu povo, fá-lo por vezes em termos de namoro. Para apoiar o seu argumento, citou duas passagens da Sagrada Escritura: "No livro de Jeremias, falando ao povo que se tinha afastado dele, recorda-lhe o tempo em que o povo era a 'esposa' de Deus e diz: 'Lembro-me do vosso afeto juvenil, do amor da vossa juventude, do amor do vosso amor juvenil, do amor do vosso amor juvenil, do amor do vosso amor juvenil': Lembro-me da tua afeição juvenil, do amor que me tinhas como noiva" (2,2). E Deus fez este caminho de namoro; depois faz também uma promessa: ouvimo-la no início da audiência, no livro de Oséias: "Desposar-te-ei para sempre, desposar-te-ei com justiça e retidão, com misericórdia e ternura, desposar-te-ei com fidelidade, e conhecerás o Senhor" (2,21-22). É um longo caminho que o Senhor percorre com o seu povo nesta viagem de noivado. No final, Deus desposa o seu povo em Jesus Cristo: em Jesus, desposa a Igreja. O povo de Deus é a esposa de Jesus".
As passagens bíblicas explicadas por Francisco ilustram que o mesmo itinerário acontece no namoro entre um homem e uma mulher: primeiro começam a caminhar juntos, depois vem a promessa de fidelidade que culminará no matrimónio, sendo este o sinal da união de Cristo e da Igreja.
A 26 de dezembro de 2021, festa da Sagrada Família, no carta Aos casais por ocasião do "Ano da Família Amoris laetitia", o Santo Padre disse que, como Abraão, "cada um dos cônjuges deixa a sua terra a partir do momento em que, sentindo o apelo do amor conjugal, decide entregar-se ao outro sem reservas". Por isso, afirmou que o namoro significa "caminhar juntos na estrada que conduz ao matrimónio". E neste caminho partilhado é essencial que os noivos aprendam a amar-se.
Com licença, obrigado e desculpa
O Papa Francisco, no discurso que dirigiu aos noivos a 14 de fevereiro de 2014, caracterizado pelo seu estilo simples mas ao mesmo tempo profundo de falar, salientou a importância de certas regras essenciais que podem ser resumidas em três palavras: "permissão", "obrigado" e "perdão". Três palavras que, no contexto de um namoro concebido como um período de "caminhar juntos na estrada do matrimónio" e de aprender a amar-se como companheiros de viagem, é bom ter em mente.
"Permissão". O Papa comentou que é "o pedido delicado de poder entrar na vida do outro com respeito e atenção". Por outras palavras, é "saber entrar com cortesia na vida do outro", pois o verdadeiro amor não se impõe, e é por isso que a cortesia mantém o amor.
"Obrigado". Francisco disse que esta pode parecer uma palavra simples de dizer, mas nem sempre é o caso. "Lembram-se do Evangelho de Lucas? Jesus cura dez doentes de lepra e só um volta para agradecer a Jesus. E o Senhor diz: "E os outros nove, onde estão? Isto também é verdade para nós: sabemos dar graças? Na vossa relação, e amanhã na vida conjugal, é importante manter viva a consciência de que o outro é um dom de Deus, e aos dons de Deus dizemos obrigado, dizemos sempre obrigado. Por esta razão, encorajou os noivos a dar graças, para poderem avançar juntos e de forma positiva para a vida de casados.
"Perdão. O Pontífice sublinhou que a condição humana conduz a erros e equívocos ao longo da vida, pelo que é imperativo pedir desculpa nas muitas ocasiões do dia. "Perdoa-me se hoje levantei a voz"; "perdoa-me se passei sem te cumprimentar"; "perdoa-me se me atrasei", "se estive muito calado esta semana", "se falei demasiado sem nunca te ouvir"; "perdoa-me se me esqueci"; "perdoa-me, estava zangado e descarreguei em ti".
Podemos dizer 'desculpa' muitas vezes por dia". Explicou também que este é um ensinamento de Jesus, que nos encoraja a nunca terminar o dia sem pedir perdão, sem que a paz regresse ao lar, ao coração da família. "Se aprendermos a pedir perdão e a perdoarmo-nos uns aos outros, o casamento vai durar, vai continuar".
Bacharel em Teologia pela Universidade de Navarra. Licenciatura em Teologia Espiritual pela Universidade da Santa Cruz, Roma.