Vocações

Innocent Chaula: "Graças a Deus, temos muitas vocações nativas na Tanzânia".

Este domingo, as Obras Missionárias Pontifícias organizam o Dia das Vocações Nativas para angariar fundos para apoiar as vocações nascidas nos territórios de missão. Nesta entrevista, o Padre Innocent Chaula fala-nos do panorama vocacional no seu país, a Tanzânia.

Loreto Rios-21 de abril de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Domingo, 21 de abril, é o Dia das Vocações Nativas, organizado pelas Obras Missionárias Pontifícias para angariar fundos para apoiar as vocações emergentes nos territórios de missão. O sítio Web específico para este dia pode ser consultado em aqui.

Como exemplo de uma vocação autóctone, Omnes entrevistou o Padre Inocêncio Chaula. Natural de TanzâniaSentiu o chamamento da vocação quando era muito jovem. Atualmente, está a estudar na Universidade Eclesiástica de São Dâmaso, em Madrid, e regressará à sua diocese de origem quando terminar a sua formação. Nesta entrevista, fala da situação das vocações autóctones no seu país e da importância das Obras Missionárias Pontifícias na ajuda a estas vocações. Atualmente, as POM apoiam 725 seminários em todo o mundo e o apoio financeiro para o ano de 2023 ascende a 16 247 679,16 euros.

Como foi o teu processo vocacional?

Nasci em Njombe, na Tanzânia, em 1983, numa família meio cristã e meio pagã. Senti a vocação para o sacerdócio quando era muito novo, com 5 anos, parecia uma brincadeira. Graças ao trabalho dos Missionários da Consolata, em particular do Padre Camillo Calliari IMC, e à fé da minha mãe, o chamamento foi progredindo passo a passo até ao momento em que escrevi a carta para ser formado como seminarista diocesano na diocese de Njombe.

A minha formação sacerdotal começou no Seminário Menor de São José - Kilocha, em Njombe, e depois no Seminário Maior de Santo Agostinho-Peramiho, em Songea. Fui ordenado em 2014. Atualmente, estou a estudar teologia dogmática na Universidade Eclesiástica de São Dâmaso, em Madrid.

Qual é a situação atual das vocações autóctones na Tanzânia?

Graças a Deus, temos muitas vocações nativas na Tanzânia. Temos sete seminários maiores (um construído há 6 anos) com mais de 1500 seminaristas, 25 seminários menores e mais de 86 congregações religiosas com mais de 12000 religiosos.

Qual é o trabalho da OMP em relação a estas vocações?

As Obras Missionárias Pontifícias têm um ramo, a Obra de São Pedro Apóstolo, que é um serviço missionário da Igreja destinado a apoiar as vocações que surgem nos territórios de missão. A Obra de S. Pedro Apóstolo (POSPA) foi criada para apoiar o clero autóctone. A sua missão é acompanhar muitos jovens que desejam responder à chamada ao sacerdócio ou à vida consagrada, mas que não dispõem dos recursos necessários para completar a sua formação.

Em relação a estas vocações, ele ajuda-nos de várias maneiras: com a oração, rezando pelas vocações autóctones. Esta é a vossa primeira ajuda, porque é uma rede de orações por esta causa; e com apoio financeiro ou material para as seguintes:

-Construção/reabilitação de seminários maiores e menores e de centros de formação.

-Bolsas de estudo para seminaristas, para ajudar nas despesas ordinárias da vida no seminário e nos centros de formação (seminários propedêuticos nas dioceses e noviciados nas congregações).

-Subsídios para formadores de seminários maiores e menores.

Como é celebrado o Dia das Vocações Nativas na Tanzânia?

Colaboremos com a Obra Pontifícia de São Pedro e façamos uma semana de preparação para o dia, convidando todos a rezar pelas vocações (como uma novena). Isto faz-se tanto nas paróquias como nas pequenas comunidades cristãs e nas famílias.

Nesse mesmo dia, muitos paroquianos fazem uma contribuição ou uma coleta para apoiar as vocações autóctones. Como são pobres, os donativos são muito pequenos. Em vez de contribuírem com muito dinheiro, as pessoas fazem uma doação de alimentos das suas quintas. Essa é a riqueza que muitas pessoas têm nas aldeias. A maior parte dos donativos são vacas, cabras, galinhas, arroz, milho, feijão, frutos de todo o género. Por isso, é necessário que a diocese ou a paróquia tenha um camião ou uma carrinha para levar tudo das aldeias para o seminário ou para o centro de formação.

A capacidade de dar e colaborar não se mede apenas pela quantidade de dinheiro ou de bens que alguém possui, mas pela vontade e pelo coração com que se oferece. É importante saber que mesmo que as pessoas sejam pobres, elas estão dispostas a contribuir com o que têm.

Que desafios pastorais encontra no seu país para que as vocações possam continuar a crescer?

Na Tanzânia, a Igreja Católica enfrenta uma série de desafios pastorais para que as vocações possam continuar a crescer. Alguns desses desafios incluem:

-Pobreza e falta de recursos: Muitas zonas da Tanzânia são pobres, o que pode limitar o acesso à educação e à formação necessárias para as vocações religiosas. A falta de recursos económicos para apoiar os seminaristas e os candidatos à vida religiosa pode ser um obstáculo significativo.

-Acesso à educação e à formação: Em algumas regiões, o acesso a uma educação de qualidade e a programas de formação religiosa pode ser limitado. Este facto torna difícil preparar adequadamente os jovens que desejam seguir uma vocação religiosa.

-Pressão cultural e social: Em algumas comunidades, existe uma pressão cultural e social que desencoraja a escolha da vida religiosa ou sacerdotal. Os jovens podem enfrentar resistência ou falta de compreensão por parte das suas famílias e comunidades quando exprimem o seu desejo de seguir uma vocação religiosa.

-Interação com outras religiões: A Tanzânia é um país religiosamente diverso, com uma mistura de cristianismo, islamismo e tradições indígenas. A Igreja Católica deve encontrar formas de dialogar com as outras religiões e culturas de uma forma respeitosa e construtiva.

-Mudança cultural e secularização: Tal como noutras partes do mundo, a Tanzânia também enfrenta o desafio da secularização e da mudança cultural, que podem influenciar o declínio das vocações religiosas. A sociedade moderna e os seus valores podem competir com os apelos vocacionais.

Quais são, na sua opinião, as razões pelas quais há mais vocações em África do que na Europa?

Isto pode dever-se a uma série de factores:

-Pastoral familiar e juvenil: Uma pastoral familiar e juvenil eficaz na Tanzânia não só reforça a fé e a vida espiritual das pessoas, mas também cria um ambiente propício ao florescimento das vocações nativas. Ao centrar-se na formação holística, no acompanhamento, na educação para a fé e na promoção ativa das vocações, a Igreja na Tanzânia pode inspirar e orientar mais jovens a seguir o seu chamamento para servir Deus e a comunidade.

-Força da fé: Em muitos países africanos, a fé católica é parte integrante da vida quotidiana e cultural das comunidades. Esta força da fé pode inspirar mais jovens a considerar a vida religiosa ou sacerdotal.

-Necessidade de serviço pastoral: Nas zonas rurais e menos desenvolvidas, a necessidade de serviços pastorais é elevada. Isto pode motivar mais pessoas a responder ao chamamento para servir as suas comunidades como padres ou religiosos.

Contexto socioeconómico: Na Europa, a sociedade passou por mudanças socioeconómicas significativas, incluindo um aumento do secularismo e uma diminuição da prática religiosa em algumas regiões. Em contrapartida, na Tanzânia e noutros países africanos, a religião continua a ser uma parte importante da identidade cultural e social.

-População jovem: A Tanzânia tem uma população jovem, com muitos jovens à procura de um objetivo e de um sentido para as suas vidas. A vida religiosa pode oferecer-lhes uma forma significativa de viver a sua fé e servir os outros.

-Apoio da comunidade: Em muitas comunidades africanas, existe um forte apoio da comunidade àqueles que escolhem a vida religiosa ou sacerdotal. Este apoio pode encorajar mais jovens a seguir este caminho.

-Acesso a recursos: Embora os recursos possam ser limitados em comparação com a Europa, a solidariedade comunitária e o apoio de organizações missionárias como a Obra Pontifícia de São Pedro podem ajudar a superar estes desafios e facilitar a formação vocacional.

É importante notar que cada país e cada cultura têm o seu próprio contexto único e que as vocações religiosas são influenciadas por uma variedade de factores. O que é certo é que, tanto na Tanzânia como na Europa, as vocações religiosas são um testemunho do chamamento de Deus e do desejo dos indivíduos de viverem a sua fé de forma empenhada e de servirem a Igreja e a comunidade.

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