O vídeo da Universidade Católica de Valência ultrapassou as 250.000 visualizações em todas as plataformas, o que faz dele uma das melhores saudações de Natal. Num ano marcado pela catástrofe natural de Valência, esta saudação conseguiu captar a essência mais profunda do Natal: a encarnação do Verbo no coração do mundo, mesmo no meio da lama.
A ideia do vídeo é o resultado de uma encomenda de Carola Minguet, diretora de comunicação da universidade, a Lucía Garijo, que dirige o Laboratório do Pensamento Visível, dedicado a explorar fórmulas audiovisuais para comunicar a antropologia cristã: "Nunca imaginei que chegasse tão longe", diz Lucía, emocionada com a receção do público. "Penso que o vídeo toca em algo universal: todos temos momentos de lama nas nossas vidas, e ver como Deus entra nessa lama dá-nos esperança.
A DANA e o Natal
O vídeo combina imagens de ruas inundadas e pessoas cobertas de lama a limpar os estragos da tempestade. A narração, em voz off lenta, recorda o mistério da Encarnação, pois "o Verbo fez-se carne e habitou entre nós". Numa reviravolta poética, mostra como Deus se fez lama, para estar com aqueles que andam na lama da vida.
Através de cenas quotidianas de solidariedade, o anúncio mostra como as coisas mais simples e mais frágeis podem tornar-se um sinal de redenção. A música acompanha a transformação do barro, que passa de símbolo de desastre a matéria-prima de um presépio feito à mão. Deus não tem medo do barro, porque vê nele a possibilidade de criar algo novo. Neste Natal, a Palavra continua a encarnar-se nas nossas vidas.
A gestação do vídeo
A realização do vídeo não foi apenas uma questão profissional para Lucía, mas também uma questão profundamente pessoal, uma vez que perdeu a sua avó nas cheias. "Foi muito difícil. No início, estava doente por causa do impacto emocional, mas depois decidi sair e ajudar na limpeza. Precisava de fazer algo pelos outros.
Um momento-chave no processo criativo ocorreu quando regressou a casa depois de um dia de lama a ajudar as pessoas afectadas pelo furacão: a sua mãe, uma ceramista, estava a trabalhar num presépio de barro. "Aquela imagem marcou-me. No meio do caos, vi como a lama podia ser transformada em algo cheio de vida e esperança". Inspirada por esta experiência, Lúcia começou a pesquisar o simbolismo do barro na Bíblia e na teologia.
Pouco tempo depois, recebeu a encomenda do vídeo de Natal. Na sua busca de inspiração, deparou-se com o artigo "Un Dios que se embarra", do Professor Leopoldo Quílez, da Faculdade de Teologia da sua universidade. "Lê-lo foi uma revelação. Ajudou-me a relacionar a fragilidade do barro com o escândalo do nascimento de Cristo num estábulo. Agradece também o vídeo "Os jovens desfilam na lama", realizado pela produtora Ongaku para o Opus Dei.
Todos nós temos uma DANA interior
Reflectindo sobre o resultado, Lúcia explica que este ano compreendeu o Natal de uma forma nova: "A nossa fé é um escândalo. É aceitar a indefensabilidade, a fragilidade, o facto de Deus ter escolhido nascer num estábulo lamacento para se encarnar e nos salvar". Na sua opinião, a lama torna-se um símbolo universal do sofrimento humano: "Todos nós temos uma DANA na nossa vida, uma dor próxima de nós. Mas quando se encontra o rosto de Deus, é possível lidar com ela. Esta é a principal aprendizagem que tive desde a trágica inundação.
Numa época em que a esperança parece escassa, esta peça é um lembrete de que a verdadeira luz brilha mesmo nos lugares mais lamacentos. O Natal, afinal, não é mais do que isso: a certeza de que Deus se aproxima, não do mundo perfeito, mas das nossas vidas tal como elas são, com a sua lama e a sua beleza. Este vídeo é um bom enquadramento para nos introduzir na Jubileu que começa na próxima semana e tem como tema a Esperança.