Reunido sob o lema "A 'Revolução Billings' 70 anos depois", o Congresso Internacional WOOMB (Organização Mundial do Método de Ovulação Billings), realizada a 28 e 29 de Abril em Roma, recordou o legado dos Drs. John e Evelyn Billings e dos seus cônjuges. Ao mesmo tempo, acolheu uma série de reflexões médicas e científicas e avaliou os desafios da baixa taxa de natalidade mundial.
A investigação sobre este método de regulação da fertilidade foi iniciada na Austrália em 1953, pelo Dr. John Billings com a contribuição da Dra. Evelyn Billings, sua mulher. Realizaram um grande trabalho, confirmado por estudos científicos de investigadores eminentes. Actualmente, o Método está difundido em todos os continentes, sendo utilizado por pessoas de diferentes línguas, culturas e religiões.
Este método é um instrumento precioso para conhecer a própria fertilidade, valorizando a dignidade da pessoa, a beleza do amor conjugal e o valor da vida humana.
O Papa Francisco enviou um Mensagem aos membros do Congressono qual recordou a "cuidadosa investigação científica" levada a cabo pelo casal e pelos médicos australianos, que os levou a desenvolver "um método simples e acessível para as mulheres e os casais para a consciencialização natural da fertilidade", conhecido como Método Billings.
Entrevistámos o Dr. Juan Francisco Stecher, obstetra-ginecologista chileno e especialista em métodos naturais de regulação da fertilidade, que participou no Congresso.
O que destacaria do recente congresso em que participou?
- A consciência e a visão de S. Paulo VI sobre os efeitos da contracepção nas nossas vidas. O trabalho sério de John e Evelyn Billings, que se esforçaram por ajudar as pessoas a viver a sua vida conjugal com respeito pelo seu corpo. E como tudo isto se desenvolveu ao longo dos últimos 70 anos, indo da Austrália aos 5 continentes. Uma presença tão diversificada, de diferentes países e até um painel com utilizadores do método de diferentes religiões, incluindo muçulmanos, foi muito enriquecedora.
Além disso, neste preciso momento, a Itália está a viver um inverno demográfico, onde em 2022 haverá cerca de 300.000 italianos a menos, porque as mortes foram superiores aos nascimentos. O Ministro da Família e um representante do Conselho da Europa convidaram os participantes a continuar a estudar e a trabalhar para divulgar um método eficaz para evitar a gravidez, mas que não imponha uma mentalidade contraceptiva e gere um empoderamento das mulheres.
Para as pessoas que têm poucos conhecimentos sobre estes métodos, poderia dar uma breve explicação sobre os métodos naturais?
- Baseiam-se no facto biológico de as mulheres serem férteis apenas durante um momento do ciclo menstrual (a ovulação, que é a libertação do óvulo do ovário e os dias anteriores em que existe um muco fértil), ao contrário dos homens, que, desde a puberdade, são férteis todos os dias. Em cada ciclo menstrual, a mulher ovula num momento preciso.
A possibilidade de gravidez só ocorre durante a chamada janela de fertilidade, que corresponde à altura da ovulação e aos dias anteriores à ovulação, quando existe muco fértil. Fora deste período, não há possibilidade de gravidez.
Os métodos naturais baseiam-se em ensinar as pessoas a reconhecer os períodos de fertilidade e de infertilidade. No passado, este conhecimento era feito através de métodos matemáticos e da utilização de um calendário; actualmente, os métodos modernos descrevem estes períodos dia a dia, proporcionando uma maior eficiência e eficácia para conhecer o ciclo, evitar a gravidez ou procurar a gravidez, em qualquer condição da mulher, mesmo com ciclos irregulares. Estes métodos requerem abstinência sexual durante o período fértil.
Na sua experiência clínica, quais são os principais obstáculos que se colocam aos casais que utilizam métodos naturais?
- Falta de informação, falta de actualização nas equipas de saúde que não conhecem outras alternativas e não as oferecem. Além disso, muitos ficaram com a eficácia dos métodos mais antigos, que tinham uma eficácia inferior.
Além disso, penso que é importante não misturar todos os métodos naturais, uma vez que podem ter eficácias muito diferentes. Na minha equipa utilizamos o Método de Ovulação Billings, que tem muito apoio científico para a sua eficácia.
Uma questão comum é a de que os métodos naturais são pouco eficazes em comparação com os métodos contraceptivos. O que é que isto tem de verdade?
- É importante compreender um conceito quando se fala da eficácia das estratégias de prevenção da gravidez: uso perfeito e uso comum. Por exemplo, o uso perfeito da pílula contraceptiva utilizada em laboratório tem uma eficácia de 99 a 98% em condições muito rigorosas, sem pílulas esquecidas, sem doenças concomitantes, sem interacções medicamentosas, etc. Mas a eficácia da pílula no mundo real é de 93%.
No método de ovulação, a utilização perfeita é 97 a 98% eficaz para evitar a gravidez; no entanto, como se baseia na abstinência sexual, se as pessoas tiverem relações sexuais durante o período fértil, têm pelo menos 25 % de hipóteses de engravidar, mas creio que isto não é uma falha do método, é a utilização consciente da informação dada pelo método.
Em resumo, o uso perfeito 98 a 97 %; em contrapartida, o uso por omissão das regras, uma probabilidade de gravidez de 25 a 35%.
Na Mensagem que o Papa Francisco enviou ao Congresso, afirma: "Depois da chamada revolução sexual que derrubou tabus, é necessária uma nova revolução de mentalidade: descobrir a beleza da sexualidade humana folheando o grande livro da natureza". Como é que os métodos naturais podem ajudar a "descobrir a beleza da sexualidade humana"?
- Muitas pessoas descobriram a beleza da biologia do ciclo menstrual, a sua complexidade e ordem, a sua ciclicidade. Isto levou-as a admirar e a respeitar o seu corpo.
Mas também a abstinência, que poderia ser vista como uma coisa má, permite-nos muitas vezes descobrir outras formas de dar, outras formas de mostrar afecto e de comunicar de uma maneira diferente. Escutar o corpo e os seus sinais, abster-se em conjunto para o bem comum, fortalece o casal. Mas um método só permite uma aproximação.
A grande mudança é, como refere Familiaris Consortio, uma preparação remota, mediata e imediata para a vida conjugal, preparando-nos para sermos um dom para os outros; esta é a grande vocação do homem: amar, ser um dom para os outros. Na vida familiar e conjugal, este dom passa pelo corpo; não é possível dar no matrimónio sem o corpo.
A grande revolução virá, portanto, quando tomarmos consciência da nossa corporeidade e de como podemos ser um dom e acolher o outro através do corpo. Foi o que nos ensinou S. João Paulo II na sua "Teologia do Corpo", que, como diz um dos seus biógrafos, é uma bomba-relógio que vai explodir em algum momento deste milénio.