Evangelização

Juan Manuel CoteloAntes de dar o passo para perdoar, parece impossível".

Juan Manuel Cotelo mergulhou em histórias reais de atentados terroristas, infidelidades ou massacres que encontram o perdão em "A maior dádiva.

Maria José Atienza-30 de março de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

"Apostamos a verdade da nossa fé em actos concretos de amor", afirma o cineasta Juan Manuel Cotelo nesta entrevista. Cotelo, que está agora empenhado no projeto de Fazer uma confusão, realizado em 2019, um documentário que não perdeu nada da sua atualidade: O maior presente.

Neste livro, o autor analisa histórias reais de perdão, mas de um perdão duro, chocante, quase cruel. Histórias que nos fazem questionar se estaríamos realmente dispostos a perdoar, porque, no fundo, impusemos limites ao perdão e isso matou-o pela raiz.

O perdão é como o amor, muda de significado quando lhe damos um apelido. É este o eixo em torno do qual gira a obra de Cotelo, de que falámos para dar um rosto e uma história ao perdão.

Para além do guião: Como se aborda o perdão na vida?

-Na vida real, não há ninguém que goste de pedir perdão ou de perdoar. Porque o perdão nasce sempre de uma ferida que nós causámos ou que nos foi causada.

Por muito difícil que seja para nós, todos temos a experiência de que nos faz bem pedir perdão e perdoar. É a única coisa que cura as nossas feridas, mesmo que as cicatrizes permaneçam.

Para dar este passo, não é aconselhável confiar nos próprios sentimentos, nem na própria força. Porque os sentimentos geralmente vão na direção oposta ao perdão e a nossa força diz-nos que não podemos dar o passo.

É por isso que temos de nos deixar ajudar por pessoas boas na terra e pela ajuda espiritual do céu. Um saltador de altura pode ultrapassar uma altura muito pequena com as suas próprias forças, mas com um salto à vara pode subir muito mais alto. É essa a ajuda de que precisamos e, se a pedirmos ao Céu, ela nunca nos faltará.

Cotelo num clip do filme "The Greatest Gift".

Em O maior presenteTim sublinha que "o perdão é o ato mais difícil e digno do homem". Somos mais humanos quando perdoamos, e a vingança não é mais natural?

-Somos humanos quando amamos e quando odiamos. Somos humanos em todas as circunstâncias. E o que todos nós podemos experimentar naturalmente é que o ressentimento é mau, terrível... e o perdão é ótimo.

Mas para o experimentar, temos de dar o passo. Antes de o darmos, parece impossível. Depois, vemos que não era assim tão mau. Tudo o que nos aproxima do amor dignifica-nos, eleva-nos. E tudo o que nos deixa presos ao ressentimento, afunda-nos. Não em teoria, mas na prática.

Será que precisamos de Deus para compreender e aceitar plenamente o perdão?

Não acredito que possamos fazer algo "apenas no plano humano", como se houvesse actividades divinas e não divinas. Tudo o que fazemos, a começar pelo facto de estarmos vivos, é um ato divino. Não há opção de separar o humano do divino, a não ser artificialmente.

A realidade é que precisamos de Deus para respirar e, claro, para amar. Quando o nosso batimento cardíaco se separa do batimento cardíaco do amor de Deus, sofremos. Quando os nossos pensamentos se separam dos pensamentos de Deus, sofremos.

Quando as nossas acções estão separadas da vontade de Deus, sofremos. A distinção entre o humano e o divino é puramente teórica. S. Paulo exprime-a muito bem: "Nele vivemos, nos movemos e existimos".. Por isso, precisamos certamente de Deus para perdoar, tal como precisamos de pernas para andar de bicicleta. Sem Deus, não daríamos uma única pedalada.

O cristianismo é a religião do perdão. Por que razão é frequentemente esquecido, mesmo entre os próprios cristãos?

-Porque o exame da nossa vida de fé não é teórico, é sempre prático. Volto a citar S. Paulo: "Faço o mal que não quero fazer, e o bem que quero fazer, não faço". Solução: confiança plena no poder da graça, na ajuda de Deus.

Quem pensa que bastam boas intenções e uma boa formação doutrinal engana-se, e a descoberta dos seus limites ser-lhe-á traumática. Jesus diz-o claramente: "Sem Mim, nada podeis fazer".

Os doutores da lei, a quem Jesus chama hipócritas, não tinham problemas teóricos de religião. Eram doutores! A mesma coisa pode acontecer a qualquer um de nós, se nos contentarmos em conhecer a teoria ou mesmo em pregá-la. Apostamos a verdade da nossa fé em actos concretos de amor. É isso que pedimos no Pai Nosso: "Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido". 

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