Ouça o podcast que acompanha este comentário para saber mais sobre a educação da temperança.
A temperança, como qualquer virtude, é tremendamente positiva: torna uma pessoa capaz de ser auto-controlada e traz ordem à sensibilidade, afectividade, gostos e desejos.
Assim, quando uma criança faz um desejo e nós pais o negamos, é fácil para nós dar respostas como "não temos dinheiro para isso" ou algo do género. Isso é apenas parte da verdade, e também tende a fazer com que as crianças vejam a sobriedade como uma coisa negativa; elas pensam que quando tivermos mais dinheiro o faremos. Não é este o caso.
A temperança proporciona-nos um equilíbrio na utilização de bens materiais que nos liberta para aspirar a bens mais elevados.
Educar na austeridade requer coragem: muitas vezes é preciso confrontar os filhos e a corrente da sociedade. Mas é assim que se faz. Ou se tem essa coragem ou não se faz nada.
O prazer é bom, não podemos ser suficientemente tolos para pensar que é algo negativo para a pessoa. Mas também não podemos ser tentados a negar que o homem é um ser que, por natureza, tem paixões desordenadas. Paulo de Tarso disse que "fez o mal que não queria fazer e que falhou em fazer o bem que queria fazer". Presumivelmente nem sempre foi este o caso, mas mesmo que se tratasse de uma ocorrência ocasional, ele queixou-se disso.
É como se o mal se tivesse inserido no coração humano e o homem tivesse de se defender contra ele. Quando dizemos sim, tudo é fácil. Instalações com inquietação muitas vezes, mas instalações.
Temos de nos habituar a dizer não a nós próprios e é nessa luta interior para fazer o bem, por vezes com vitórias e por vezes com derrotas, que vem a paz que desejamos. Dizer não em muitas ocasiões é afastar-se do mal.
Quantos vícios, que causam sofrimento a tantas pessoas, poderiam ter sido evitados se as crianças tivessem sido educadas a negar a si próprias o que lhes é prejudicial, o que é objectivamente mau.
Há pessoas que são incapazes de dizer "não" aos impulsos do ambiente ou aos desejos das pessoas à sua volta. São pessoas despersonalizadas, não são livres porque são movidas pelos desejos dos outros sem poder renunciar a eles.
Dizer "não" a algumas coisas é, no fundo, um compromisso com outras. É uma forma de provar a si próprio que se tem valores.
Dizer "não" significa comprometer-se com aquilo que realmente lhe é caro e torná-lo conhecido com a sua vida, com aquilo que faz.
Uma pessoa que não se esforça pela sobriedade, temperança, acaba por ser incapaz de dizer não às sensações que o ambiente lhe desperta. Ele acaba por procurar a felicidade em sensações falsas e fugazes, que, por serem fugazes, nunca satisfazem.
Um amigo disse-me que o seu jovem filho lhe tinha perguntado por que razão, se tinha dinheiro, não o aproveitava e pedia sempre o melhor nos restaurantes. Aproveitei a oportunidade para lhe explicar que a sobriedade, a temperança, não depende do facto de se ter muito ou pouco dinheiro. São virtudes, valores pelos quais se tem de viver, independentemente do custo ou do pagador. Assim, uma pessoa com muito dinheiro pode ser sóbria e temperamental, e uma pessoa muito pobre pode ser muito pouco temperamental.
A temperança é indispensável para trazer alguma ordem ao caos que o mal impõe à natureza humana.