De acordo com o Catecismo da Igreja Católica no seu ponto 1806, "A prudência é a virtude que dispõe a razão prática para discernir em todas as circunstâncias o nosso verdadeiro bem e para escolher os meios corretos para o alcançar (...)".
O que é que significa ser cauteloso, manter a boca fechada e não falar demasiado para não cometer um erro, conter um impulso, fazer o quê?
Uma pessoa prudente é aquela que está habituada a fazer as coisas de acordo com a realidade. Poderíamos dizer que é sinónimo de sabedoria, bom senso ou bom senso para agir: primeiro pesa, discerne e depois age.
Posto isto, destacamos os três elementos fundamentais que compõem a virtude da prudência: os princípios, o discernimento e o domínio da vontade.
De facto, sem princípios verdadeiros e bons, é impossível agir de acordo com a realidade. Sem um discernimento que nos guie na situação concreta que temos diante de nós, os princípios permanecem declarações vagas e líricas de uma bondade mais desejada do que real.
E com os dois aspectos acima referidos, princípios e discernimento, mas sem o domínio da vontade, tudo não passa de um mero desejo infrutífero, e conduz à desesperança de não poder alcançar concretamente o bem para a nossa vida.
Ora, o papel da vontade não é o de amar a plenos pulmões, mesmo que por vezes tenha de o fazer.
E, de facto, não há prudência sem o exercício diário dos actos que os princípios inspiram e o discernimento indica.
Tal exercício seria diligente, determinado, sem dispersão ou hesitação. Depois de ter agido, avaliarei o que fiz, para que o bem alcançado me inspire para acções futuras.
A razão da prudência na vida conjugal
Aplicando a prudência acima descrita à realidade do matrimónio, e para não abusar do espaço de que dispomos neste periódico, centrar-nos-emos nos princípios específicos do matrimónio, nomeadamente a unidade, a indissolubilidade e a fecundidade. Desta forma, também faremos uma abordagem estritamente prática desta dissertação.
Unidade e prudência no matrimónio
O princípio da unidade é a base de todos os outros. O amor humano só nasce e cresce na unidade dos cônjuges.
Fora desta união e desta amizade muito especial de duas pessoas diferentes que se entregam uma à outra de forma recíproca e complementar, o amor, nomeadamente o amor na sua dimensão sexual, desaparece, porque perde a sua essência de virtude e torna-se falso, tóxico e possessivo.
Para discernir se um casamento está a viver sabiamente a unidade que a sua realidade exige, pode perguntar-se: Conheço bem o meu cônjuge? Sei do que ele gosta e não gosta? Que gostos ou passatempos partilhamos? Estou disposto a renunciar a alguns dos meus gostos individuais pelo meu cônjuge? Vejo o mundo através dos seus olhos e compreendo-o? Estou do seu lado? Procuro o que é melhor para ambos? Preocupo-me com o meu cônjuge? Preocupo-me com o que ele sente, pensa e faz? Respeito a sua liberdade e confio no meu cônjuge?
Indissolubilidade e prudência no casamento
Em segundo lugar, no que respeita à indissolubilidade, defini-la-íamos como a forma de unidade e fidelidade ao longo do tempo. De facto, sem a crença na unidade indissolúvel, não há como manter o amor conjugal, nem há justiça à dignidade da pessoa.
Quando considero a prudência no contexto da indissolubilidade do matrimónio, posso colocar a mim mesmo algumas questões: estou disposto a cumprir as minhas promessas matrimoniais? Medito nelas com frequência? Sou cuidadoso quanto à exclusividade do meu compromisso? Estou consciente das coisas que podem dificultar ou tornar impossível a indissolubilidade do meu casamento?
Fertilidade e prudência no casamento
Outro princípio é o da fecundidade. Já muito se escreveu sobre a abertura à vida que a vida sexual ativa do casal deve ter, e muito claramente: não há verdadeira unidade, nem indissolubilidade, nem fidelidade, se a vida sexual do casal estiver fechada à vida.
É muito importante compreender que a vida sexual é um aspeto essencial da fecundidade do casamento; mas não é o único, nem é a base.
A fecundidade é, antes de mais, o florescimento das pessoas que se tornam cônjuges. O matrimónio é necessariamente fecundo, e não apenas na procriação dos filhos. criançasPor vezes, não o são, mas com bondade, compaixão, ajuda mútua e aos outros.
A fecundidade é um traço caraterístico de todo o amor, pois todo o amor - conjugal, parental, filial, de amizade, etc. - é chamado a dar frutos: dedicação, generosidade, compreensão, tempo, pormenores.
Mas o fruto da transmissão da vida é o que é específico e exclusivo do amor conjugal no domínio da fecundidade, a sua marca de identidade em relação aos outros amores, com os quais partilha todos os outros frutos.
Sem tudo o que implica tornar a própria vida fecunda e nobre, a procriação dos filhos não exprime uma verdadeira fecundidade, mas sim uma compulsão e, não raro, poder-se-ia dizer, um abandono e uma tristeza.
Perguntas de discernimento sobre a fecundidade vivida com sabedoria: Estou disposto a dar a minha vida pela minha família? Sei que essa entrega implica, mais do que um ato heroico, um fazer diário? Cuido da minha vida sexual como expressão de amor, ternura e respeito pelo meu cônjuge?
A fertilidade não é uma questão de número de filhos, que cabe a cada casal decidir de acordo com as suas circunstâncias, mas sim uma atitude e um princípio orientador.
Para concluir, devemos recordar o importante papel da prudência na vida virtuosa daqueles que a consideram como tal, uma vez que ela é a "auriga virtutum", ou guia das virtudes, segundo São Tomás de Aquino. E também no domínio do matrimónio, a prudência parece-nos ser o guia ou o condutor das outras virtudes que garantem o êxito do casamento.