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Um sim a todos os riscos, a aventura de um jovem casal

Almudena e Carlos estão casados há mais de seis meses. Conscientes da força do seu testemunho, abriram uma conta no Instagram (Un sí a todo riesgo) para partilhar o que sabem e o que estão a aprender nesta aventura de ser um jovem casal católico.

Paloma López Campos-6 de outubro de 2023-Tempo de leitura: 6 acta
Almu e Carlos

Almudena e Carlos, conhecidos pela sua conta de Instagram "Un sí a todo riesgo".

Carlos e Almudena casaram-se há pouco mais de seis meses. No entanto, há muito mais tempo que partilham com as pessoas tudo o que sabem e estão a aprender na aventura de serem um jovem casal católico. Para chegar a um número ainda maior de pessoas, abriram uma conta no Instagram chamada "Um risco total sim". Já têm mais de mil seguidores.

Nesta entrevista, explicam o processo que cada um seguiu para procurar a vontade de Deus em cada momento, bem como algumas das ideias que mais os ajudaram durante a sua relação, noivado e casamento.

Porque é que decidiste abrir a tua conta no Instagram, "Un sí a todo riesgo"?

- [Carlos]: Sempre tive o desejo de acompanhar as pessoas. Quando comecei a namorar com a Almu, vi que ela era como eu e tinha o mesmo desejo. Assim que nos casámos, ambos sabíamos que tínhamos a missão de ajudar as pessoas no casamento. Uma amiga minha, que tem uma conta de conteúdos católicos, entrevistou-nos para contar o nosso testemunho no seu podcast. O episódio teve tanto sucesso que ela pediu uma segunda parte. Mais tarde, quando estávamos em Itália de férias e casados, a ideia da nossa conta no Instagram confirmou-se. Estávamos em Roma a visitar algumas paróquias e em cada sagrario Estabelecemos uma intenção para o nosso casamento. Aí tive uma luz para começar com "Un sí a todo riesgo". Falei disso à Almu e ela inscreveu-se de imediato.

- [Almudena]: Não queremos apenas ajudar, queremos também ir ao encontro das pessoas. Estamos conscientes de que a fecundidade de um casamento não se vê apenas nos filhos que se têm, mas em todos os frutos que se dão.

Porque é que deu esse nome específico à conta?

- [Almudena]: Quando dizemos "sim", sabemos que no nosso futuro haverá todo o tipo de riscos para os quais não nos podemos preparar. Também pode ser interpretado de outra forma. Por exemplo, quando se contrata uma apólice de seguro contra todos os riscos para um automóvel, não importa o que lhe aconteça, porque está protegido. É uma forma de dizer que dissemos sim a nós próprios e que colocámos tudo em risco, colocando-o perante o Senhor.

Carlos, em que momento é que te apercebes que estás perante a mulher da tua vida e decides pedi-la em casamento? 

- [Carlos]: É preciso explicar que namorámos durante um ano, acabámos e voltámos em dezembro. Em fevereiro seguinte, soube que queria casar com ela. Tinha planeado pedi-la em casamento a 19 de março, festa de S. José. Mas, no acompanhamento espiritual, vi que o meu coração precisava de esperar um pouco mais. Almu também queria muito casar-se e eu disse-lhe que Deus me faria saber quando fosse a altura certa. Em maio, soube que era o momento certo, mas não sei dizer exatamente qual foi a sensação de o saber. É uma espécie de certeza, já não estamos determinados, mas é Deus que está determinado a dar o passo. Em maio, o desejo pertencia-nos aos dois, a Deus e a mim.

Almudena, como é que viveste todo este processo?

- [Almudena]: Para vos dar uma ideia da situação, comprei o meu vestido de noiva um mês e meio antes de o Carlos me pedir em casamento. Eu tinha a certeza de que nos íamos casar, mas não sabia quando. Quando ficámos noivos, o Carlos tinha 27 anos, mas eu tinha apenas 22. No entanto, é importante salientar que são necessárias algumas condições externas para dar o passo que demos, não se pode fazê-lo de um momento para o outro. É preciso um mínimo. Mas sempre enfatizo que cada compromisso tem seu tempo e Deus faz as coisas do jeito que ele quer.

Também é verdade que tínhamos passado por muito na nossa relação e o momento da separação ajudou-nos a perceber o que tinha acontecido, o que queríamos e que não valia a pena lutar se não fosse para estarmos um com o outro. Quando voltámos a estar juntos, a relação tinha mudado radicalmente. Para começar, porque havia um grau de seriedade totalmente diferente do anterior. Escolhemo-nos um ao outro sabendo muito bem o que havia.

Eu estava sempre a puxar o saco do Carlos quando ele falava em casar e isso fazia-me sofrer muito quando ele me dava a volta. No fim, foi ele que se ajoelhou. Eu queria ajoelhar-me e pedir-lhe em casamento, mas o Carlos disse que ia recusar. Fiquei zangada, porque é que eu tinha de esperar? Também devo dizer que precisava que o Carlos se ajoelhasse à minha frente. Precisava que ele, como mulher, me mostrasse o quanto eu valia para ele daquela maneira.

- [Carlos]: O processo da mulher é complicado, porque ela tem de esperar que o homem dê o passo. É um processo para os dois, mas ela tem de esperar e confiar na decisão do homem. Mas não porque ela dependa dele, mas porque o homem também tem de tomar uma decisão. É um processo que endurece e ajuda a outra pessoa.

Falamos muito sobre a fase de noivado e casamento, mas tendemos a esquecer a fase de noivado. Que conselhos práticos pode dar às pessoas que se encontram nessa fase?

- [Carlos]: Foi-me dado um conselho muito claro. No momento em que pões um anel no dedo da tua namorada, o discernimento acabou. Nesse momento, já estás a pensar no casamento e as conversas já não são as mesmas. A vossa cabeça já deu um salto. Acho que é importante parar e questionar se se está pronto para casar, o que é verdade é que nunca se está. Mas há questões básicas, uma das quais é conhecermo-nos a nós próprios e conhecer a outra pessoa. Também é preciso saber que o casamento sem Deus é impossível, assim como o compromisso. Vejo a Almu de uma forma completamente diferente de cada vez que estou em frente ao tabernáculo. Quanto mais tempo passa no nosso casamento, mais me apercebo de que isto só é possível com Deus.

Para tornar as coisas concretas, diria que a primeira coisa é conhecermo-nos a nós próprios. Em segundo lugar, é preciso conhecer a outra pessoa em profundidade. E, finalmente, ter consciência do que é o casamento. Não se casem só pelo facto de se casarem. É algo para toda a vida e temos de estar conscientes de que estamos a casar com alguém que não somos nós. Temos de nos adaptar à linguagem do outro, temos de nos humilhar e abdicar de coisas. É preciso ter consciência de que vale a pena abdicar de coisas pelo outro e é preciso dar sentido a tudo isto. Casar para chegar ao Céu, porque Deus também está empenhado nisso. Casar porque se quer aprender a amar, porque se quer fazer o outro feliz.

- [Almudena]: Para mim é muito claro que a primeira coisa que eu faria quando encontro um casal que acaba de ficar noivo é encorajá-lo. É um momento muito difícil. É um momento muito difícil. Quando se fica noivo, está-se numa espécie de limbo. É um pouco complicado colocar o futuro marido ou mulher no seu devido lugar, porque o mais fácil é pensar que já é seu marido ou mulher e a realidade é que ainda não o é. É uma fase em que todas as questões se colocam. É uma fase em que todas as questões assumem um nível de seriedade muito elevado.

Também é importante dizer que durante o noivado parece que o casamento é tudo, mas na verdade o casamento é o primeiro dia. Ao longo dessa fase, você coloca o foco em coisas absurdas que não importam tanto. A parte mais importante, quando se está a dizer os votos, que é a parte de Deus, é muito simples. Porque é que complicamos tanto as coisas para nós próprios?

Para conselhos práticos, conversámos sobre os princípios que tínhamos de seguir antes de nos casarmos. Falámos sobre as coisas que tínhamos de fazer antes do casamento. Havia elementos que não podiam faltar antes de darmos o passo e, no nosso caso, era curar as nossas feridas. Pouco tempo depois, descobrimos que isso era utópico, porque estaríamos sempre feridos. Decidimos então prometer a nós próprios que nunca deixaríamos de trabalhar nas nossas feridas e pusemos mãos à obra.

Que coisas aprenderam agora, depois de casados, que não esperavam?

- [Almudena]: A primeira coisa para mim é que eu já amava muito o Carlos, mas não tinha consciência de quanto o podia amar. Por outro lado, Deus dá-me muitas vezes o dom de ver que somos um só. Tudo isto parecia-me impossível. Sobretudo se tivermos em conta que no início do nosso casamento, quando começámos a viver juntos, não nos dávamos muito bem. Mas agora adoro-o.

Aprendi que não há nada melhor do que rir com o Carlos. Há dias em que precisamos simplesmente de nos divertir de novo, como se fôssemos crianças, como amigos. É preciso ter momentos de qualidade quando essa é a prioridade.

Também acredito que o casamento é um caminho de grande humildade. Sou uma pessoa muito arrogante, é muito difícil para mim manter a cabeça baixa, mas agora acontece que o faço todos os dias. Mas tenho consciência de que o meu casamento está em primeiro lugar. O Carlos está em primeiro lugar para mim.

- [Carlos]: Aprendi que se procurarmos ter o dom do outro, isso só nos levará ao orgulho e à competição. No momento em que se aperceberem que são complementares, prometo-vos que se descontraem e começam a viver em paz. Não podes esforçar-te por ser melhor do que o outro.

Também aprendi a pensar menos em mim, algo em que tive de trabalhar muito. Hoje posso dizer que, em vez de pensar no afeto que recebo, penso primeiro na felicidade deles.

No casamento há uma fusão entre duas pessoas e isso dói muito no início, porque temos de nos adaptar e o primeiro choque dói muito. Mas com o passar do tempo, a dor diminui e apercebemo-nos de que nos tornámos um só. Mas no início são dois, têm de passar pelo processo de adaptação pouco a pouco.

Também temos uma ferida muito profunda de orgulho e fazemos um grande esforço para pedir sempre perdão e pedir ajuda. Estamos dispostos a fazer tudo o que for preciso um pelo outro, por isso, apesar do nosso orgulho, sabemos que nos amamos muito e sabemos que isso vale mais do que qualquer outra coisa.

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