O relatório Contador 2024lançado em 27 de fevereiro, em Itália, pela Associação Meter ETS, apresenta um quadro chocante da proliferação de material pedófilo na Internet. Cada informação foi verificada individualmente pelo Observatório Mundial contra a Pedofilia, que colabora com as autoridades policiais para identificar e perseguir estes crimes.
O documento confirma um crescimento sem precedentes da pedofilia em linha, com números que mostram a dimensão do problema. Em apenas um ano, o número de vídeos com conteúdos pedófilos aumentou 220%excedendo o 2 milhões de ficheiros disponíveis na rede. Além disso, foram detectadas as seguintes situações quase 2 milhões de imagens, 410 grupos de distribuição nas redes sociaisa maior parte deles em Sinal, y 8.034 ligações a sítios Web dedicado à divulgação destes conteúdos.
Uma das informações mais perturbadoras do relatório é a localização de 269 pastas comprimidas contendo material explícito de abuso sexual de crianças, documentando a existência de redes organizadas que operam com uma impunidade alarmante.
Os maus tratos das mães aos filhos estão a aumentar
O relatório destaca outro fenómeno preocupante: o aumento dos abusos sexuais perpetrados por mulheres, em particular por mães contra os seus próprios filhos, uma tendência conhecida como Pedomama. A investigação do Meter revelou um caso chocante em que uma única ligação partilhada através do Signal continha 1,49 terabytes de pornografia infantil, o equivalente a 148 720 vídeos e fotografias.
O presidente da associação, Fortunato Di NotoO relatório, publicado pela Comissão Europeia da União Europeia, refere que "o Signal se tornou cúmplice do mal" porque, embora a sua encriptação de ponta a ponta proteja a privacidade dos seus utilizadores, torna extremamente difícil a identificação dos criminosos e a remoção do material ilegal, favorecendo assim a impunidade das redes criminosas de pornografia infantil.
América e Europa lideram a distribuição de pornografia infantil
O Relatório Meter 2024 identifica as Américas e a Europa como os principais centros de distribuição de material pedófilo em linha. De acordo com os dados recolhidos, foram identificados 4.977 links em servidores nas Américas e 1.475 na Europa, confirmando o papel fundamental destes dois continentes na gestão de plataformas que facilitam a disseminação deste tipo de conteúdos.
Em termos de domínios nacionais, o relatório revela que a Nova Zelândia encabeça a lista com 930 ligações comunicadas, seguida do Território Britânico do Oceano Índico, com 642 ligações, e da Colômbia, com 390 ligações. Estes dados reflectem a forma como os criminosos procuram refúgio em jurisdições menos regulamentadas para alojar e trocar material ilegal.
Inteligência artificial, a nova ameaça na exploração infantil
A Inteligência Artificial está a emergir como um perigoso aliado das redes de exploração infantil. De acordo com o relatório, os grupos criminosos estão a utilizar a IA para gerar imagens e vídeos falsos perturbadoramente realistas de abuso de crianças. Embora estas imagens possam não representar situações reais, o perigo é inegável: objectivam as crianças, alimentam a procura de conteúdos pedófilos e normalizam os abusos reais.
A Meter Association apelou a que as imagens geradas por IA sejam universalmente reconhecidas como crimes contra crianças, mesmo que não representem um abuso físico efetivo.
O papel da cultura e da permissividade histórica
O relatório do Meter ETS centra-se no presente, mas o contexto cultural e ideológico que permitiu que este fenómeno crescesse sem controlo nas últimas décadas não pode ser ignorado.
Nas décadas de 1970 e 1980, sectores progressistas da intelligentsia europeia promoveram a despenalização das relações sexuais entre adultos e menores. Um episódio particularmente revelador ocorreu em França, em 1977, quando 80 intelectuais de esquerda assinou um manifesto em defesa da legalização da pedofilia. Entre os signatários encontram-se figuras de renome como Michel Foucault, Jean-Paul Sartre, Jacques Derrida, Simone de Beauvoir, Gilles Deleuze e Félix Guattari.
Na altura, até a Igreja Católica foi apontada por alguns destes círculos como uma instituição "repressiva" que, ao opor-se a estas ideias, estava a "impedir a felicidade das crianças". Paradoxalmente, hoje ela é justamente censurada por não ter tratado adequadamente os abusos cometidos no seu seio, esquecendo que essas aberrações nasceram num clima cultural que procurava relativizar os danos causados às vítimas.
A posição a favor da pedofilia tem vindo a diminuir ao longo dos anos, e as tentativas de a normalizar deparam-se atualmente com uma forte resistência social. No entanto, o mercado negro da pornografia infantil continua a crescer de forma descontrolada, alimentado por redes criminosas internacionais que operam a coberto da impunidade digital.
Como combater este fenómeno
Tendo em conta o quadro preocupante apresentado no relatório, a Associação de Contadores propõe várias linhas de ação:
- Incluir nos programas educativos formação sobre afetividade e utilização responsável da Internet.
- Prestar aconselhamento e apoio às famílias das instituições escolares.
- Mobilizar a imprensa e as organizações da sociedade civil para aumentar a sensibilização para a gravidade do problema.
- Estabelecer legislação mais restritiva e dotar as autoridades de meios eficazes para combater este crime.
O relatório Contador 2024 evidencia a magnitude de uma realidade muitas vezes invisível e que exige respostas urgentes e enérgicas da sociedade, das autoridades e das plataformas tecnológicas.