Acha que o mundo está muito mal, que a sociedade perdeu a fé e os bons costumes, que o esvaziamento das igrejas é irremediável e que nada pode ser feito para inverter esta tendência? Bem, se pensa assim, talvez seja você que tem o problema.
Não podemos atribuir toda a culpa aos outros. Temos de fazer uma autocrítica e perguntar-nos por que razão, se a vida de fé vale a pena ser vivida, a maioria dos nossos vizinhos deixou de a praticar.
Este domingo celebramos a Dia Mundial das Missõeso popular Domunde as Obras Missionárias Pontifícias propõem como lema uma das frases da parábola do banquete de núpcias, quando o rei, depois de ter tudo pronto para receber os convidados, e perante a recusa destes em comparecer, manda os seus servos irem para a encruzilhada convidar todos os que encontrassem. Eles obedeceram e reuniram todos os que encontraram, "maus e bons", diz o texto.
A Igreja como um banquete de casamento
A primeira imagem que nos pode ajudar nesta reflexão é a da Igreja como uma festa de casamento. Uma festa de casamento é uma festa, um momento em que a família se reúne para celebrar o amor dos esposos e para viver em fraternidade com a família. É por isso que predomina a alegria, que exprimimos com o modo de vestir, com uma comida e uma bebida especiais, com música, dança, presentes...
Até que ponto a nossa Igreja é uma festa de família? Até que ponto a minha paróquia, o meu movimento, a minha comunidade é um lugar onde se pode sentir parte de uma família que celebra uma festa? Até que ponto eu próprio, como membro da Igreja e, portanto, representante dela, sou música e vinho para os que me rodeiam? A minha vida, através da minha vocação concreta de casal, de sacerdote, de consagrado, de solteiro, etc., é o reflexo de uma festa? O queixume contínuo, a desesperança em relação ao futuro, a crítica aos que são menos perfeitos, a prioridade do formal sobre o vivencial da fé, o nosso farisaísmo em suma, é o que irrita muitos daqueles que nos olham.
Pelo nosso batismo, somos todos missionários, servos enviados às encruzilhadas para chamar as pessoas ao banquete, pois Deus deve dar alegria e sentido às nossas vidas; mas muitos de nós, em vez de as atrair, tentamos afastá-las com a nossa atitude pessimista ou a nossa incoerência entre o que pregamos e o que vivemos.
A alegria da missão
Se há uma coisa que se destaca nos missionários que nestes dias, por altura do Dia Mundial das Missões, dão o seu testemunho nas paróquias, nas escolas e nos meios de comunicação social, é a profunda alegria que transmitem. Sempre vi neles um brilho especial no olhar; aquele que, nos casamentos, se vê nos noivos, nos padrinhos, nos avós, nos irmãos e nos amigos mais próximos dos noivos. Um brilho que fala da alegria que lhes vai no coração e que querem partilhar com todos os que os rodeiam.
Nesta festa de Santa Teresa de Jesus, outra missionária incansável, errante e fundadora de conventos até onde as suas forças o permitiam, podemos aprender com os seus ensinamentos. Ela ensina-nos a não ficarmos paralisados em tempos difíceis como aqueles em que - tal como ela no seu tempo - tivemos de viver. O seu "não deixes que nada te perturbe, não deixes que nada te assuste" afasta-nos da tentação do derrotismo, da desilusão, do desespero em que podemos cair quando vemos o mal a grassar à nossa volta. Porque Deus não se afastou do seu povo e, apesar de andarmos em vales escuros, a sua vara e o seu silêncio sustentam-nos.
Aproxima-se o Jubileu da Esperança, que nos convida, individual e coletivamente, a sermos sinais de esperança para o mundo. Sacudamos, pois, a poeira da depressão e dos maus presságios e vamos para a encruzilhada convidar todos, todos, todos. Confiemos na esperança que não desilude, porque a paciência tudo alcança.
Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.