Há muitas coisas sobre o funcionamento da Igreja que eu não compreendo. A começar pelo latim ou pelo que acontece nos conclaves. Por não perceber, não percebo sequer a burocracia com que por vezes nos deparamos quando queremos fazer algo como casar. Há alturas em que não sabemos se estamos a falar com o nosso pároco ou com um funcionário da Câmara Municipal de Parla.
Há também muitas coisas sobre o conteúdo que tenho dificuldade em compreender. Ou, mais do que compreender, saber como adaptar a minha vida a essas coisas. Tenho dificuldade em dar a outra face, e o que dizer de perdoar até setenta vezes sete? Ou o de dar o manto e a túnica, quando tiro o cobertor do meu marido à noite, e nem sequer estou lá há um ano. casado.
Começa a perder o teu medo
A realidade é que há muitas coisas sobre a Igreja que eu não compreendo. Mas acho que não faz mal. Imagino que os apóstolos também não entendiam muito no início, mas Jesus confiava neles na mesma. Confiava tanto neles que lhes deu a tarefa de divulgar a missão de uma Igreja que nem eles compreendiam bem. Mas sabia que eles o amavam com um coração sincero e isso, pelo menos no início, é suficiente.
Mas é nesse início que está a chave. Os apóstolos não tinham medo daquela Igreja que não compreendiam, porque amavam Jesus, que, aliás, também não compreendiam bem. Mas aprenderam a alargar o seu coração e adoptaram a sua medida. Decidiram deixar de fazer as coisas como queriam e como lhes convinha e aceitar completamente o projeto de Jesus.
A Igreja e os nossos medos
Hoje há muita gente que tem medo da Igreja. Há pessoas que desfocam a mensagem de Cristo e tentam transformá-la noutra coisa: num musical, num misticismo orientalista que se funde no todo (e acaba em nada), num ativismo sem norte... E eu, que no início pensava que faziam isto por ignorância, acabei por perceber que o que está por detrás disso é o medo: medo de um Cristo que não compreendem, de uma Igreja que nos interpela, no melhor sentido da palavra.
Há mesmo um medo do compromisso, esse medo de que nós, católicos, acusamos os outros membros da sociedade, como se não fizéssemos também parte dela. E porque temos medo de um verdadeiro compromisso, confundimos a Igreja com um clube social a que vamos uma vez por semana.
E, porque temos medo, desculpamo-nos nas coisas que não compreendemos para fazer uma outra Igreja à nossa medida, um outro Evangelho "adaptado". O Juiz é misericordioso, mas não deixa de ser um juiz, e há algumas coisas que ele deixou bem claras.
E porque temos medo, dizemos que não há mais papa. E pensamos que o Vaticano é realmente uma máfia disfarçada. E identificamos Cristo com um iogue, em vez de confessarmos que ele é Deus... E, distorcendo o que nos rodeia, pensamos encobrir o medo de reconhecer que Jesus tem uma mensagem que, se não tivermos um coração aberto à graça, nos ultrapassa.
Fixar o olhar
Talvez eu esteja enganado e, de facto, haja mais do que medo, haja ignorância. Ou mesmo uma intervenção ativa de Satanás. A verdade é que não sei... não compreendo bem. Mas prefiro começar pela parte clara, a da mensagem bem explicada no Evangelho pelo próprio Cristo. Prefiro começar por confiar na Igreja, mesmo que por vezes ela me diga coisas em latim, mas não faz mal porque estamos no século XXI e há tradutores automáticos maravilhosos.
Gostaria de começar pela parte em que, se confiarmos em Cristo, perdemos o medo desta Igreja que não compreendemos bem. Mas ela é d'Ele, muito mais do que do Papa, do pároco e minha. Para além das conspirações e das doutrinas confusas, para além dos medos projectados em mensagens distorcidas, confio plenamente que Jesus escolheu bem essa pedra que não compreendia nada, mas sobre a qual decidiu construir a sua Igreja. Fixando o nosso olhar em Cristo, aceitando a sua mensagem na sua totalidade e a graça que a acompanha, começa a diminuir o medo de uma Igreja que, confesso, muitas vezes não compreendo.