Matrimónio sagrado

Hoje, 15 de maio, celebramos a festa de Santo Isidro Labrador, exemplo de matrimónio cristão com a sua esposa, Santa Maria da Cabeça, e de santidade no trabalho quotidiano.

15 de maio de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

San Isidro Labrador e Santa María de la Cabeza

O 15 de maioNa festa de San Isidro Labrador, padroeiro dos camponeses, a Igreja coloca na ribalta um leigo, casado com outra santa, María de la Cabeza, e pai de família. Os casamentos sagrados são raros no calendário cristão, mas as coisas estão prestes a mudar.

Digo poucos em proporção, dada a superioridade numérica dos baptizados sobre os ordenados ou consagrados; mas é claro que há muitos casamentos santos. Desde o modelo da Sagrada Família, com Maria e José; passando pelos Santos Priscila e Áquila - colaboradores de São Paulo -, São Gregório Velho e Santa Nona - pais dos Santos Gregório Teólogo, Cesário e Gorgona - ou os numerosos casais martirizados durante a perseguição religiosa no Japão ou na Coreia; até aos mais recentes Beatos Luís Martinho e Célia Maria Guerin - pais de Santa Teresa de Lisieux - ou Luís e Maria Beltrame Quattrocchi, entre outros.

E digo que vai mudar porque, numa sociedade que se transformou radicalmente nas últimas décadas, a forma de ser uma boa notícia no mundo já não pode ser a mesma de antes.

As vocações de especial consagração eram consideradas para aqueles que tinham uma maior inquietação, para aqueles que tinham feito uma abordagem mais radical da dedicação a Deus, enquanto o casamento era o estado de vida, digamos, por defeito, do cristão comum. Os que não se tornavam padres, freiras ou monges, casavam-se, e os que nem sequer se casavam, ficavam - para o dizer de forma depreciativa - a vestir-se de santos. Este gradualismo injusto da vida cristã, como se a santidade se medisse por estados de vida e não pela estatura que Cristo alcança em nós, ofusca o chamamento de Deus que todos nós, solteiros, casados, sacerdotes ou religiosos, temos desde a nossa consagração batismal.

Recentemente, conversando com um amigo religioso, estávamos a brincar sobre o facto de o casamento poder ser, hoje, a vocação cristã para os mais empedernidos (na realidade, todos eles são impossíveis sem a graça de Deus, claro). Reflectimos que não há nada como o casamento para viver hoje os três conselhos evangélicos (castidade, pobreza e obediência) professados pelos religiosos.

Quanto à castidade, a hipersexualização da sociedade e os novos usos e costumes tornam cada vez mais estranho e contracultural viver esta graça nas suas diversas facetas: seja no namoro, na fase fértil do matrimónio, quando a abertura à vida se torna uma batalha, seja na maturidade, quando a ociosidade pode levar à infidelidade; e desde que não haja problemas de saúde! A castidade conjugal é também um dom único da graça e até uma manifestação do século futuro, pois o cônjuge é apenas um reflexo de Cristo como único esposo.

Se estamos a falar de pobreza, não consigo imaginar melhor forma de a viver hoje em dia do que numa família cristã. Quantos sacrifícios os pais fazem pelos filhos! Aquela viagem de sonho, aquele passatempo que os apaixona ou aquele capricho que viram numa montra são sempre adiados para pagar a hipoteca, para comprar toneladas de fraldas, para comprar os medicamentos do avô, para pagar as propinas do estudante universitário que não conseguiu uma bolsa de estudo ou o enésimo par de óculos para o mais indisciplinado. E as propinas da paróquia, claro! Onde melhor viver a partilha, a fraternidade, do que numa família? O matrimónio poderia muito bem ser uma dessas "novas formas" de expressão da pobreza voluntária abraçada pelo seguimento de Cristo que o Concílio se propôs cultivar.

A obediência é a parte mais séria, porque num mundo individualista como o nosso e no qual as relações entre homens e mulheres são abordadas apenas na perspetiva do conflito, falar de submissão ao outro é quase suspeito. Mas, no matrimónio cristão, os cônjuges (literalmente, os que estão sob o mesmo jugo) sabem que a sua liberdade reside em moldarem-se à vontade do outro. Os que se tornaram uma só carne obedecem um ao outro como Jesus obedece ao seu Pai, a quem disse: "Eu e tu somos um".

Não pretendo com esta reflexão diminuir o valor da vida consagrada, mas antes pelo contrário: mostrar que não pode haver estados de primeira e de segunda classe, como parece ao ler a lista dos santos reconhecidos pela Igreja, mas que, como se diz a seguir Lumen GentiumO Senhor chama todos os fiéis, cristãos de todas as condições e estados, fortalecidos por tantos e tão poderosos meios de salvação, cada um a seu modo, à perfeição daquela santidade com que o próprio Pai é perfeito".

A crise atual da vida consagrada é a mesma que a da vida matrimonial. Quanto mais equipararmos as duas e quanto mais convidarmos os fiéis a viver a radicalidade do Evangelho, tanto mais facilmente os jovens verão o chamamento às vocações de especial consagração, porque elas são apenas mais um carisma dentro do mesmo chamamento à santidade.

Hoje encomendamos a Santo Isidoro e a Santa Maria da Cabeça todos os solteiros, sacerdotes e religiosos; mas rezemos também a eles para que haja mais matrimónios santos que testemunhem que, amando-se como Cristo amou a sua Igreja, podemos tornar-nos sinal da caridade perfeita.

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

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