Recuperar o valor do sagrado

Se quisermos educar numa experiência religiosa, devemos começar por ajudar os jovens a perceber esta experiência do sagrado.

9 de Fevereiro de 2023-Tempo de leitura: 3 acta
jovem sagrado

Nada é sagrado. Esta parece ser a palavra de ordem do nosso tempo.

A consciência de que estamos num lugar sagrado ou a viver um acontecimento sagrado remete-nos directamente para uma presença especial de Deus. Uma presença que se torna naquele momento e lugar, de uma forma misteriosa, quase tangível. Esta foi a experiência de Moisés antes do arbusto em chamas. "Descalçai os vossos sapatos, pois o chão em que estais é sagrado" (Ex 3:5).

Esta experiência do sagrado, essencial à religião, permeou a vida dos nossos antepassados. Sabiam que havia momentos sagrados, acontecimentos em que o tempo parou e tocou a eternidade.

A Eucaristia, de uma forma muito especial, leva-nos de volta à mesma ceia na Quinta-feira Santa, ao sacrifício único de Cristo na cruz, ao mistério da ressurreição de Jesus. Tempos sagrados em que a eternidade é tocada. Como aconteceu com Pedro, Tiago e João no momento da transfiguração de Jesus no Monte Tabor. Um momento em que, por um segundo, as aparências são arrancadas e deixa-nos ver o infinito.

Os nossos antepassados também sabiam que existiam lugares sagrados. Espaços privilegiados, portas de acesso ao infinito, onde a presença de Deus era palpável. Em santuários como Lourdes ou Fátima, o sobrenatural torna-se próximo. Em Nazaré ficamos impressionados ao ler no altar "Verbum Caro Hic Factum Est". Aqui, 'hic', neste lugar, o céu e a terra juntaram-se. Um lugar para entrar com um silêncio respeitoso, quase na ponta dos pés. Descalço com a alma.

E no entanto...

Hoje nada é santo. Tudo tem sido desencantado. E banalizada, que é a forma de pôr fim a essa experiência de estar perante algo que nos leva para além, que transcende a sua própria realidade.

Sem dúvida que esta perda de consciência do sagrado é uma das consequências do "desencanto" que caracteriza a nossa era secular, tal como definida pelo filósofo Charles Taylor. Uma mentalidade que molda o homem moderno. Para o homem de hoje, o tempo não é mais do que uma sucessão de acontecimentos, um após o outro. E o espaço é matéria pura que se refere apenas a si mesmo. O próprio conceito do sagrado parece pertencer a uma outra época, à Idade Média.

Sem dúvida, se quisermos educar numa experiência religiosa, devemos começar por ajudar os jovens a perceber esta experiência do sagrado. A começar pelas nossas próprias celebrações e templos. Devemos deixar espaço para o silêncio e descobrir que o templo é um lugar sagrado habitado pelo Deus vivo. Para reconhecer a sua presença. Estar em pavor e admiração. Para os ajudar a entrar, através de gestos, música e arte, nesta experiência que ultrapassa a alma e a coloca em contacto com o mistério. E nisto, temos de ser honestos, temos vindo a perder a sensibilidade e temos sido infectados por esta atmosfera profana.

Mas a educação no sagrado abraça toda a vida. Devemos ensinando crianças e jovens a descobrir a pegada do Criador quando contemplam a natureza. Mostrar-lhes que existe um significado na história da humanidade. Ajude-os a afastar-se das aparências e a ver para além delas.

Precisamos de nos reconectar com o sagrado e educar as novas gerações no mesmo. E não é uma tarefa fácil. Há toda uma cultura que a torna difícil. Mas é essencial fazê-lo se quisermos realmente enfrentar a evangelização deste mundo.

Talvez esta seja, a propósito, uma das chaves para o sucesso do trabalho de J.R.R. Tolkien, o autor de O Senhor dos Anéis". Que através da fantasia ele conseguiu revelar-nos que o mundo está realmente 'encantado'. A sua epopeia medieval liga-nos aos nossos batimentos cardíacos mais íntimos e devolve-nos a esperança. Há um espaço para o sagrado em todo o seu trabalho.

A nosso favor, como sempre, temos o coração do jovem que sente vivamente que tem de haver "algo mais". Esse tempo não pode acabar. Que, como Máximo disse no filme GladiadorO que fazemos na vida é ecoado na eternidade".

O autorJavier Segura

Delegado docente na Diocese de Getafe desde o ano académico de 2010-2011, realizou anteriormente este serviço no Arcebispado de Pamplona e Tudela durante sete anos (2003-2009). Actualmente combina este trabalho com a sua dedicação à pastoral juvenil, dirigindo a Associação Pública da Fiel 'Milicia de Santa María' e a associação educativa 'VEN Y VERÁS'. EDUCACIÓN', da qual é presidente.

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