Nos últimos tempos, sempre que se aproxima a possibilidade de um conclave, há uma especulação interminável sobre quem será o próximo Papa. As listas de "papáveis", as análises dos "especialistas" e as apostas circulam sem parar, mas a realidade é muito mais incerta do que parece. A história tem demonstrado que as eleições papais podem trazer grandes surpresas, como foi o caso da eleição de João Paulo II em 1978.
O caso de Karol Wojtyla é um exemplo claro de como o Espírito Santo e a dinâmica interna do conclave podem conduzir a uma eleição inesperada. Nessa ocasião, dois cardeais italianos eram os favoritos, mas a divisão no seu apoio impediu que qualquer um deles alcançasse a maioria necessária. No fundo, havia dois grandes grupos que não estavam dispostos a apoiar o candidato rival em circunstância alguma. Era, portanto, necessário procurar um cardeal não italiano que fosse aceite por uma ampla maioria. Surgiu assim a figura de um polaco praticamente desconhecido, que acabou por ser eleito e deixar a sua marca na história da Igreja.
Atualmente, a situação não é muito diferente. Dos 135 cardeais eleitores, muitos não se conhecem. A ausência de encontros frequentes, como os consistórios de cardeais, dificultou o contacto e o conhecimento mútuo, o que torna qualquer prognóstico ainda mais incerto. Há cerca de 30 cardeais bem conhecidos, quer porque trabalham na cúria romana, quer porque saltaram para a ribalta dos media por uma razão particular, mas nenhum deles tem uma liderança suficientemente clara para obter rapidamente a votação de dois terços. Assim, apesar da insistência dos media em apontar para os "papáveis", a realidade é que a eleição pode ir para alguém inesperado.
Além disso, o interesse mediático gerado pela eleição papal incentiva os jornalistas a alimentar o debate com nomes e perfis dos cardeais mais visíveis. Os títulos que incluem a palavra "papável" são muito tentadores e os leitores caem facilmente no "clickbait", mas isso não significa que sejam realmente os mais prováveis. Até que a votação comece e os primeiros escrutínios tenham lugar, não será possível vislumbrar quem tem realmente hipóteses. A dinâmica do conclave é imprevisível e, até que os cardeais votem várias vezes, não será possível vislumbrar a tendência da eleição.
Por conseguinte, é aconselhável relativizar as especulações e, sobretudo, não perder de vista o facto de que, nestas eleições, tal como na história da Igreja, a Providência desempenha o seu papel. No fim de contas, como já disse RatzingerNão será o Espírito Santo a escolher o Papa, mas Ele manterá a Igreja e o Papa acima das estratégias e previsões humanas.
Editor da Omnes. Anteriormente, foi colaborador de vários meios de comunicação social e leccionou filosofia ao nível do Bachillerato durante 18 anos.