Lições dos santos

Os mártires Hipólito e Pontianus foram um exemplo de reconciliação entre inimigos, até ao ponto de partilharem o heroísmo do martírio.

16 de Agosto de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

Gostaria de me deter brevemente na história de dois santos, desconhecidos da maioria, mas que têm realmente muito a dizer à Igreja de hoje. Refiro-me aos mártires Pontianus e Hipólito, que celebramos a 13 de Agosto, com um memorial gratuito muito humilde, que no mundo da liturgia é a forma mínima de recordar alguém.

Hipólito era um presbítero extremamente moralista e rigoroso que chocava com o papa da época, São Zefirino. As razões das discordâncias não são claras, em parte de origem dogmática sobre a natureza de Cristo (os conselhos que esclareceriam isto ainda não tinham sido realizados) e em parte sobre a possibilidade de readmissão na comunidade dos cristãos que tinham abjurado sob tortura (os chamados "cristãos"). lapsi). A tensão irrompeu quando, aquando da morte de Zeferinus, São Calisto, um homem de origem humilde e diácono do anterior pontífice, foi eleito papa. Hipólito não aceitou a nomeação e, eleito pelos seus seguidores, fez-se papa, tornando-se assim o primeiro anti-popa do cristianismo.

Com a morte de Callixtus, Pontianus foi eleito, que Hippolytus se apressou a não reconhecer pelas mesmas razões. Chegou o ano 235 e com ele a ascensão ao poder de Maximinus, o trácio, um imperador oposto ao cristianismo que, em todas as oportunidades, condenou Pontianus a trabalhos forçados: ad metallaas minas da Sardenha. Pontiano, movido por uma humildade heróica, para não deixar Roma sem bispo, renunciou ao seu cargo, enriquecendo assim o século não só com o primeiro "anti-papa" mas também com o primeiro papa "demissionário". Pouco tempo depois, o imperador, incapaz de distinguir entre papas e antípopes, condenou Hipólito ao mesmo castigo, que encontrou Pontianus acorrentado. E aqui o milagre aconteceu. Surpreendido pela humildade, paciência e mansidão de Pontiano, Hipólito converteu-se e reconheceu o seu erro, conciliando assim o cisma. Ambos morreram em consequência dos maus tratos e condições desumanas que sofreram, e desde então a Igreja celebra-os juntos como santos e mártires.

O passado dos santos pode dar-nos muitas lições. Demasiado rigor e demasiada certeza em acreditar que sabemos, mesmo que ditados pela mais perfeita boa fé, podem dividir em vez de unir e podem enfraquecer em vez de fortalecer a Igreja. Acima de tudo, no cristianismo, a fraqueza é mais convincente do que a força. Pontiano é um instrumento de graça não porque se agarra ao poder, mas porque renuncia a ele, pondo em prática o ensinamento de Cristo de que aquele que verdadeiramente governaria deve ser um servo de todos. A última lição é talvez a mais comovente. Hipólito, que em nome da verdade se tinha feito inimigo de Pontianus, encontra o bem do outro dentro de um caminho de dor que os une a ambos. Só através da cruz é possível ver quem é cada um. Só caminhando juntos naquele hospital de campo que é a Igreja na verdadeira vida, é possível conhecerem-se, reconhecerem-se e ajudarem-se mutuamente para construir aquele Bem que é a herança e o desejo de cada coração humano.

O autorMauro Leonardi

Sacerdote e escritor.

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