A madeira da Cruz

Nós, cristãos, somos os primeiros a ser comovidos quando vemos a grandeza de uma mãe aceitar a rendição do seu filho na cruz.

6 de Novembro de 2021-Tempo de leitura: 2 acta

Vemo-la todos os dias, ou se não, pelo menos frequentemente. Rezamos para ela e rezamos para ela. Maravilhamo-nos com o Amor pregado, mas quão longe estamos por vezes de o abraçar, de abraçar a cruz, de derreter naquela dor inexplicável.

Talvez seja por isso que nós, cristãos, somos os primeiros que, quando vemos este abraço tornar-se realidade num dos nossos semelhantes, ficamos comovidos e sentimo-nos pequenos, sem amor pela cruz, a verdadeira, a que dói, a que fura o peito, as mãos e os pés.

Chocada, como tantas outras, pelo exemplo desta mãe que abraça aquela que, involuntariamente, trouxe a marcha de uma filha para o céu. Como a Virgem aos pés da cruz, ela também abraça a dor, a sua própria e a dos outros.

Estava a ler numa rede social o reflexo de outra mulher, outra mãe, outra pessoa que luta todos os dias na sua vida de fé e que, face a este imenso abraço, se perguntava de que eram feitos os cristãos de madeira, esta mãe cristã que abraça a dor da sua dor. E ela respondeu: "da madeira da cruz".

Tal como a madeira, essa força, essa fortaleza não vem da noite para o dia. Foi regada, cresceu, fortalecida em cada nó: em cada pequena rendição, em cada oração face ao incompreensível, em cada acto de generosidade despercebido. Desta madeira de que todos nós partilhamos, regada pelo sangue de Cristo, provém a aceitação perante um mistério ininteligível como a morte "absurda" de uma criança.

E daquela madeira, daquela cruz que, por vezes, preferimos olhar de longe, devemos ser hoje, cada um de nós, os novos cirenenses.

O autorMaria José Atienza

Diretora da Omnes. Licenciada em Comunicação, com mais de 15 anos de experiência em comunicação eclesial. Colaborou em meios como o COPE e a RNE.

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