Há alguns meses atrás tive a sorte de regressar à Terra Santa com um grupo de jornalistas religiosos graças ao Turismo de Israel. Nessa viagem, enquanto almoçávamos em Nazaré, estávamos imersos numa conversa peculiar sobre a chave da Salvação: quer ela estivesse na Encarnação ou na Ressurreição. A verdade é que não chegámos a qualquer conclusão, provavelmente porque não éramos os melhores teólogos do mundo e, muito mais provavelmente, porque o nosso apertado calendário o deixou no meio.
Desde então tenho pensado muito nessa conversa, talvez porque na realidade, Deus não está satisfeito com um único ponto de viragem na sua história de amor com o homem; talvez porque, cada vez mais, me surpreende que Deus se tenha tornado carne e sangue.
Deus homem, mas de verdade, com veias, cabelo, unhas e picadas de mosquito... Porquê? Talvez porque senão, teríamos nós acreditado que "esta coisa da salvação" é para si e para mim?
Como disse Teruliano: "Caro salutis est cardo", "a carne é a dobradiça da salvação" (De carnis resurrectione, 8, 3: pl 2, 806) e, comentando esta passagem, Bento XVI assinala que "Jesus começa a oferecer-se a si mesmo por amor desde o primeiro momento da sua existência humana no seio da Virgem Maria". Um ponto de viragem: Deus que se torna um vulgar vós.
Sim, somos condicionados (condição abençoada) pela carne, pelos nossos limites, pela nossa altura e largura... física e espiritual.
E no entanto, desta finitude, o nosso desejo de eternidade torna-nos capazes de dizer ao outro ente querido: "Estou mortinho por estar contigo". Estou a morrer... "Entrego esta finitude até ao fim da sua eternidade", "Deixo de ser eu porque tu vales mais do que eu", "Deixo de ser eu porque tu vales mais do que eu". a minha solidão na solidão".
Amar é dizer à outra pessoa não só que ele ou ela vale a pena, mas que vale a pena viver.
Quando Cristo se dá a si próprio, quando dá a sua vida - outro ponto de viragem - o seu corpo, a sua carne, ele culmina esta doação de si próprio na cruz. Ali fecha-se o novo pacto, a quarta taça... a mesma doação de cada Eucaristia.
Sim, houve - há - um que, com todo o seu sentido, morreu por si. Mais ainda, ele morreu para estar consigo.
Diretora da Omnes. Licenciada em Comunicação, com mais de 15 anos de experiência em comunicação eclesial. Colaborou em meios como o COPE e a RNE.