"A guerra é paz, a liberdade é escravidão, a ignorância é força. Estes são os três slogans do partido que coroam o edifício faraónico do Ministério da Verdade no romance 1984. A manipulação da linguagem atinge hoje níveis semelhantes.
Não sou certamente um teórico da conspiração, mas penso que não estamos longe da sociedade distópica esmagadora imaginada por George Orwell. Ali, a chamada "neolinguagem" servia o omnipresente Big Brother para controlar os cidadãos; aqui, as ideologias usam a linguagem para adoçar o que não engoliríamos se chamassem as pás à espada.
Os excessos de linguagem inclusiva, que por vezes se aproximam do ridículo, ou o rolo compressor da ideologia do género, que ameaça transformar qualquer pessoa que se recuse a dizer que o branco é preto num criminoso, são apenas exemplos de uma prática bem conhecida dos governantes de todas as idades.
As últimas a queixarem-se da manipulação da língua foram as associações de famílias numerosas que vêem a nova lei a ser preparada pelo governo espanhol como uma agressão. Na exposição de motivos do projecto de lei, revelada pelo jornal ABC, o governo reconhece claramente a natureza ideológica da lei, afirmando que "a família já não existe, mas sim as famílias no plural".
Segundo o regulamento, o conceito de família grande desaparece, reconhecendo no seu lugar até 16 tipos diferentes de famílias, incluindo (que coisa!) a família composta por uma só pessoa.
As grandes famílias protestam com razão que "se tudo é família, já nada é família", citando a falta de reconhecimento, no actual contexto demográfico, da função social que desempenham.
Apesar de, ano após ano, a família continuar a aparecer em primeiro lugar no ranking das instituições mais valorizadas, a verdade é que, à medida que as práticas sociais a tornam cada vez mais pequena e mais frágil, o seu papel está a tornar-se cada vez mais confuso. Algumas pessoas já dizem que a verdadeira família são amigos, porque são "aqueles que você escolhe", para que o Big Brother cumpra, passo a passo, o seu projecto de engenharia social de eliminação de laços, a fim de tornar os indivíduos cada vez mais solitários, mais desenraizados, mais dependentes do Estado e, portanto, mais manipuláveis. Esvaziar a palavra família do seu significado aproxima-nos cada vez mais da manada - ou da alcateia ou do rebanho, o que preferir; torna-nos menos humanos e mais do que aquilo em que eles nos querem transformar.
O que aconteceria se, na procura de uma igualdade efectiva, todos nos chamássemos uns aos outros o mesmo nome? O mundo estaria num caos, ninguém saberia quem é quem, nem mesmo a si próprio.
Hoje celebramos a festa do Santíssimo Nome de Jesus, um termo que significa, em hebraico, "Deus salva", indicando claramente a missão da criança. Que saibamos chamar as coisas pelos seus nomes e não nos deixemos manipular por estes falsos salvadores da humanidade. Porque a humanidade já foi salva por um homem simples que aprendeu a ser e a levar este conceito até ao fim naquela escola da humanidade chamada família. O seu nome, acima de todos os nomes: Jesus. Voltemo-nos para ele quando estivermos confusos.
Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.