Se há uma coisa que a Palavra de Deus nos encoraja a fazer, é cantar: "Cantai!
O povo salvo canta e dança. Fazem-no no meio do deserto, quando Maria, a irmã de Moisés, encoraja o canto "ao Senhor, o grande vencedor". Dança David "com todo o seu entusiasmo, cantando com cítaras e harpas, com pandeiretas, tamborins e címbalos".Maria entoa uma salmodia rítmica, o Magnificat, às portas da casa de Isabel; o próprio Cristo lamenta a incredulidade do povo com uma comparação musical: "Nós cantámos ao som da flauta e vós não dançastes"..
O música está intimamente ligado às emoções humanas mais profundas, e é aí que Deus está. Adorar a Deus com o canto e a dança mostra essa entrega total do homem: esse movimento que vem do fundo do coração e se manifesta fisicamente.
Não é por acaso que se diz que a música é a linguagem dos anjos, criada para a eterna adoração e louvor de Deus. Deus canta e cria; cria cantando, e há quem tenha imaginado a criação do mundo como uma composição musical, seguindo a poderosa imagem de C. S. Lewis em As Crónicas de Nárnia.
Homens e mulheres de todos os tempos cantaram as suas aspirações e desejos mais profundos, os seus amores mais claros, o seu princípio e o seu fim. Também a Igreja, como povo de Deus, cantou o centro do seu amor desde as suas origens: "a tradição musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor inestimável que se destaca entre as outras expressões artísticas, principalmente porque o canto sagrado, unido às palavras, constitui uma parte necessária ou integrante da liturgia solene". afirma o Sacrosanctum Concilium.
Numa obra magistral, e não menos controversa, artigo de Marcos Torres publicado no Omnes de 9 de outubro de 2024, o autor recorda como "a música religiosa foi tão importante na transmissão da verdade dos conteúdos da fé que a Igreja, através da sucessão apostólica, sempre teve o cuidado de discernir e verificar as expressões e formas concretas das várias criações musicais".. Expressões que vão desde a música litúrgica, própria da celebração do mistério sacramental eucarístico, até aos novos movimentos musicais ligados à adoração (adoração).
A música, como expressão profundamente humana e divina, é um veículo privilegiado para adorar a Deus e transmitir a fé, para encarnar o amor e amar o Deus que se fez homem e que, certamente, também dançou e cantou.