A arma do Apocalipse

Relendo o Apocalipse na chave de hoje, podemos encontrar hoje os novos animais e dragões que nos assustam, mas que não conseguirão a vitória final.

14 de Outubro de 2022-Tempo de leitura: 3 acta
santa teresa

"Não quero tristeza e melancolia na minha casa", disse Santa Teresa de Jesus às suas freiras. Nesta véspera do seu dia de festa, pergunto-me se existe realmente alguma razão para estarmos alegres num mundo que parece estar a afundar-se sob os nossos pés.

Quando a maior pandemia global em décadas parecia estar a recuar no retrovisor, deixando-nos com a sensação de que era apenas um pesadelo, a "terceira guerra mundial", como o próprio Papa Francisco já apelidou o conflito que toda a humanidade está a combater, por agora, no tabuleiro de xadrez da Ucrânia, cobre o futuro da Europa e do mundo com nuvens escuras.

Acrescente-se a isso as consequências das alterações climáticas, com uma seca recorde e a ameaça de acontecimentos climáticos extremos, e o que podemos esperar nos próximos anos senão sofrimento de todo o tipo? Além disso, com a possibilidade do armagedão nuclear sobre a mesa, será que os anos que se avizinham existirão, ou será que a humanidade terá sido apenas um insignificante blip no meio dos eons da vida no planeta Terra?

Estou certo de que a fé cristã pode ajudar-nos a recuperar a esperança fazendo mais do que rezar pelo fim das hostilidades e pela melhoria do clima - embora isto seja muito necessário - e a solução reside no Livro do Apocalipse, um livro com o nome que os próprios crentes desconhecem.

Para o último livro da Bíblia, longe de servir para incutir medo e terror, como parece a um leitor destreinado confrontado com as visões que descreve, procura encorajar, confortar e promover a esperança na comunidade cristã a que se dirige. As terríveis visões que descreve não são previsões futuras a temer, mas formas metafóricas de alusão aos males já presentes, tais como a monstruosa perseguição do Império Romano naquela época, encorajando os fiéis a resistir confiando na assistência divina. Em suma, não é um texto catastrófico, mas tem um carácter positivo e alegre.

Relendo o Apocalipse na chave de hoje, podemos encontrar hoje os novos animais e dragões que nos assustam, mas que não conseguirão a vitória final, porque a mulher vestida com o sol (imagem de Maria ou da Igreja) e o cordeiro morto (imagem de Cristo) prevalecerão no final da história. É um apelo, em suma, para não ter medo apesar de todas as tristezas, porque a chave dos acontecimentos está nas mãos de Deus, e só Ele sabe o dia e a hora de cada um.

Há tempos difíceis, como sempre houve na história da humanidade, mas o cristão confia no espírito das bem-aventuranças, pilar do Evangelho: bem-aventurados os pobres, os que choram, os perseguidos... Apesar das provações deste mundo, podemos experimentar, já aqui como primeiros frutos, os frutos do Reino dos Céus: alegria, consolação, a esperança de justiça no fim dos tempos. Saber que somos amados e reconhecer Deus nas dobras da história é um motivo de esperança e um repelente para os demónios de tristeza e melancolia que nos esperam.

Face ao medo e à incerteza, é bom invocar a esperança cantando, com o salmista: "O Senhor está comigo: não temo; o que pode o homem fazer-me?" e voltarmo-nos uma vez mais para o santo de Ávila que nos recorda: "Espera, espera, pois não sabes quando chegará o dia ou a hora. Observe atentamente, pois tudo passa rapidamente, embora o seu desejo torne o certo duvidoso, e o curto período de tempo longo. Vê que quanto mais lutares, mais mostrarás o amor que tens pelo teu Deus e mais te alegrarás com o teu Amado com alegria e deleite que não pode ter fim".

A esperança, que é uma arma invencível. Literalmente, a arma do apocalipse.

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

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