A turismofobia é uma tendência que conheço bem, pois tenho a sorte de viver num dos destinos turísticos mais em voga do mundo: Málaga. A minha cidade está sempre a aparecer nos rankings dos lugares mais desejáveis para visitar. O seu clima agradável, a sua ampla oferta cultural e museológica, a beleza das suas ruas, praias e paisagens naturais, a simpatia das suas gentes (perdoem-me a imodéstia) e a sua gastronomia única tornaram-na num lugar invejável onde todos querem vir viver ou, pelo menos, passar uns dias.
Os benefícios desta tendência para a população de Málaga são inquestionáveis, uma vez que as receitas do turismo beneficiam todos, mas também existem muitas desvantagens: os jovens têm de procurar casa fora da cidade, uma vez que não têm acesso ao mercado imobiliário, o aumento dos preços dos produtos básicos, a sobrelotação das ruas e dos espaços públicos, o desaparecimento do comércio tradicional...
Sobrelotação turística e fobia do turismo
A sobrelotação turística tem o poder paradoxal de transformar espaços únicos, e por isso admirados, em espaços comuns e odiosos. Uma Málaga sem moscatel, espetos e pescaíto, porque o que os turistas gostam é de hambúrgueres e cerveja importada, não seria a cidade que inspirou Picasso; e uma Málaga com praias, museus e bares lotados até não haver mais espaço, não seria a Cidade do Paraíso que o Prémio Nobel Vicente Aleixandre cantou; e uma Málaga sem Malagueños, não seria a cidade que Antonio Banderas toma como idem. O mesmo se poderia dizer de outras cidades como Veneza, Roma, Atenas ou Cancun. Encontrar o equilíbrio certo é difícil e cabe às instituições pôr mãos à obra para não matar a galinha dos ovos de ouro.
Hoje, porém, gostaria de refletir sobre uma outra perspetiva, não menos importante para encontrar soluções para o problema da turismofobia, que é a forma como nos comportamos quando vamos fazer turismo. Lembro-me com muito carinho da Ana, uma santa mulher da minha família. paróquia que, durante as peregrinações, não permitia que o pessoal de serviço lhe arrumasse o quarto nos hotéis onde ficámos várias noites. Dizia que fazer a cama era a primeira coisa que fazia todas as manhãs desde pequena e que, por estar fora de casa, não ia deixar de o fazer. "Assim, além disso", dizia-me ela com os olhos brilhantes de quem prepara uma surpresa, "dou um mimo à rapariga quando ela entrar no meu quarto.
A sua atitude ajudou-me muito a compreender que os turistas devem estar conscientes de que os locais por onde passam não são a sua casa. Mas não, como muitos fazem, para serem desinibidos e se comportarem como não fariam em casa; mas para serem extremamente respeitosos e cuidadosos, como quando se é hóspede numa casa estranha. Porque se parte no dia seguinte e se vos vi já não me lembro, mas as pessoas que lá trabalham e as que vivem nessa cidade merecem a minha consideração e agradecimento pela sua hospitalidade.
A essência do turismo
Sem chegar ao extremo de Ana, cuja atitude poderia colocar muita gente no desemprego se se espalhasse, deveríamos rever o que o turismo significa para nós: é uma experiência superficial que consiste apenas em ver coisas novas e satisfazer os nossos sentidos sem nos preocuparmos com quem está à nossa volta ou, pelo contrário, procuramos admirar a beleza, enriquecer o nosso espírito e conhecer pessoas de outros lugares?
A este respeito, a recente mensagem da Santa Sé por ocasião da Dia Mundial do Turismo defendeu a colocação da cultura do encontro no centro da atividade turística, tão fortemente defendido pelo Papa Francisco, "o encontro", diz o texto, "é um instrumento de diálogo e de conhecimento mútuo; é fonte de respeito e de reconhecimento da dignidade do outro; é uma premissa indispensável para a construção de laços duradouros".
Turistas ou peregrinos?
Devemos procurar encontrar o outro porque somos peregrinos num mundo onde os países estão cada vez mais próximos, mas as pessoas estão cada vez mais distantes. Por isso, o Papa Francisco convidou recentemente os jovens a não serem meros turistas, mas peregrinos. "Que a vossa viagem", disse-lhes, "não seja apenas uma passagem superficial pelos lugares da vida: sem captar a beleza do que encontrais, sem descobrir o sentido dos caminhos que percorreis, captando breves momentos, experiências fugazes para guardar numa selfie. O turista faz isso. O peregrino, pelo contrário, mergulha totalmente nos lugares que encontra, fá-los falar, torna-os parte da sua busca de felicidade.
Esta é a chave, não perder de vista, no país e no estrangeiro, que somos peregrinos e que estamos apenas de passagem. Por isso, "¡Buen camino!
Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.