Vaticano

"A fé em Jesus Cristo liberta-se da Lei e, ao mesmo tempo, leva-a ao seu cumprimento".

O Papa Francisco lembrou à audiência geral que os mandamentos são os "pedagogos" que nos levam a Jesus, comentando a Carta de São Paulo aos Gálatas.

David Fernández Alonso-11 de Agosto de 2021-Tempo de leitura: 3 acta
audiência

Foto: ©2021 Catholic News Service / U.S. Conference of Catholic Bishops.

O Santo Padre Francisco iniciou a audiência geral saudando os fiéis que se tinham reunido na Sala Paulo VI, à qual foi saudado com grande aplauso.

Na audiência de hoje, o Papa Francisco prosseguiu comentando a Carta de S. Paulo aos Gálatas: "Porquê a lei?" (Gal 3,19). Esta é a questão que, após São Paulo, queremos examinar em profundidade hoje, a fim de reconhecer a novidade da vida cristã animada pelo Espírito Santo. O apóstolo escreve: "Se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei" (Gal 5,18). Contudo, os detractores de Paulo argumentaram que os Gálatas teriam de seguir a Lei para serem salvos. O apóstolo discordou fortemente. Não foi nestes termos que ele tinha concordado com os outros apóstolos em Jerusalém. Ele lembra-se bem das palavras de Pedro quando disse: "Porque é que agora tentas a Deus, pondo um jugo no pescoço dos discípulos que nem os nossos pais nem nós fomos capazes de suportar? As disposições que saíram daquele "primeiro conselho" de Jerusalém eram muito claras, e diziam: "Que nós e o Espírito Santo decidimos não vos impor outros fardos além destes indispensáveis: abster-vos das coisas sacrificadas aos ídolos, do sangue, dos animais estrangulados e das impurezas".

"Quando Paulo fala da Lei, refere-se normalmente à Lei do Mosaico. Isto relacionava-se com o pacto que Deus tinha estabelecido com o seu povo. De acordo com vários textos do Antigo Testamento, o Torá - o termo hebraico para a Lei - é a recolha de todas essas prescrições e regras que os israelitas devem observar, em virtude do seu pacto com Deus. Uma síntese eficaz do que o Torá pode ser encontrado neste texto de Deuteronómio: "Porque o Senhor se regozijará de novo com a vossa felicidade, como se regozijou com a felicidade dos vossos pais, se obedecerdes à voz do Senhor vosso Deus, guardando os seus mandamentos e os seus preceitos, que estão escritos no livro desta Lei, se vos voltardes para o Senhor vosso Deus com todo o vosso coração e com toda a vossa alma" (30:9-10). A observância da Lei garantiu ao povo os benefícios do pacto e o vínculo especial com Deus. Ao fazer o pacto com Israel, Deus tinha-lhe oferecido o Torá para que pudesse compreender a sua vontade e viver em justiça. Em mais do que uma ocasião, especialmente nos livros dos profetas, nota-se que a não observância dos preceitos da Lei constituiu uma verdadeira traição ao Pacto, provocando a reacção da ira de Deus. A ligação entre o pacto e a lei era tão estreita que as duas realidades eram inseparáveis.

"À luz de tudo isto, é fácil compreender como os missionários que se tinham infiltrado entre os Galatianos teriam sido bem dispostos a manter que a adesão ao Pacto também implicava a observância da Lei do Mosaico. Contudo, é precisamente sobre este ponto que podemos descobrir a inteligência espiritual de S. Paulo e as grandes intuições que ele expressou, sustentadas pela graça recebida pela sua missão evangelizadora".

"O Apóstolo explica aos Galatianos que, na realidade, o pacto e a lei não estão indissoluvelmente ligados. O primeiro elemento em que ele se baseia é que a aliança estabelecida por Deus com Abraão se baseava na fé no cumprimento da promessa e não na observância da Lei, que ainda não estava em vigor. O Apóstolo escreve: "E eu digo: Um testamento já feito por Deus na devida forma [com Abraão], não pode ser anulado pela lei, que vem quatrocentos e trinta anos depois [com Moisés], de tal forma que a promessa é anulada. Pois se a herança dependesse da Lei, já não procederia da promessa, e no entanto Deus concedeu a Abraão o seu favor sob a forma de uma promessa" (Gal 3,17-18). Com este raciocínio Paulo alcança um primeiro objectivo: a Lei não é a base do pacto porque veio em sucessão".

"Tal argumento envergonha aqueles que argumentam que a Lei do Mosaico é uma parte constitutiva do Pacto. O ToráNa realidade, não está incluída na promessa feita a Abraão. Dito isto, não se deve pensar que São Paulo era contra a Lei do Mosaico. Mais de uma vez, nas suas Cartas, defende a sua origem divina e afirma que tem um papel muito preciso na história da salvação. Mas a Lei não dá vida, não oferece o cumprimento da promessa, porque não está em condições de a cumprir. Quem procura a vida precisa de olhar para a promessa e para o seu cumprimento em Cristo".

"Amados, esta primeira exposição do apóstolo aos Gálatas apresenta a novidade radical da vida cristã: todos aqueles que têm fé em Jesus Cristo são chamados a viver no Espírito Santo, que liberta da Lei e ao mesmo tempo a leva ao cumprimento do mandamento do amor".

No final da audiência, ocorreu um pormenor especial. Um dos seus colaboradores entregou-lhe um telefone onde um telefonema o esperava, que ele atendeu ali mesmo, na Sala Paulo VI, logo após a bênção que acabou com a audiência geral.

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