América Latina

"O Papa Francisco é o homem da Igreja para este momento".

Omnes-13 de Junho de 2016-Tempo de leitura: 3 acta

Recordamos alguns momentos importantes da história recente da Igreja com D. Szymanski, que aos 94 anos de idade foi testemunha em primeira mão de alguns marcos, tais como o Concílio Vaticano II, no qual participou. 

Lourdes Angélica Ramírez, San Luis Potosí

Em 8 de Outubro de 1965, o Papa Paulo VI encerrou a Concílio Vaticano IIassistidos por 2.540 bispos de todo o mundo. Entre os que ainda sobrevivem encontra-se Dom Arturo Antonio Szymanski Ramírez, 94, Arcebispo Emérito de San Luis Potosí (México). Um homem culto e simples, a sua narrativa inteligente é intercalada por um humor jovial que é contagioso. Ele revê simpaticamente as memórias pessoais desses anos.

Foi padre conciliar e conheceu Bento XVI e João Paulo II. O que nos pode dizer sobre eles?
-Benedicto XVI é um homem sábio que chegou ao ponto de tentar pôr as doutrinas em ordem. Era um papa que fez muito pela Igreja. Fiquei surpreendido com ele. A única coisa é que ele é alemão e tinha sido professor. Conheci-o no Concílio Vaticano II. Na primeira sessão do Conselho, Ratzinger foi conselheiro do Cardeal Josef Frings, Arcebispo de Colónia. Mas já na segunda sessão ele foi nomeado teólogo do Conselho porque eles viram que ele tinha muita capacidade. No Concílio, o Cardeal Alfredo Ottaviani, que era da corrente romana, e o Cardeal Frings, que era da corrente de renovação da Igreja, estavam a combatê-la. Era muito interessante, porque ambos eram meio-cegos, e no Conselho podia-se ver como lutariam um contra o outro na sala do Conselho e depois, depois dos argumentos, os dois iriam, meio-cegos, de mãos dadas, para a cafetaria onde iríamos todos ao lado da Basílica de São Pedro.

No Conselho fui aprender o que pensava o episcopado de todo o mundo. Conheci africanos, chineses... As conversações durante as refeições foram muito enriquecedoras.

O Cardeal Wyszynski, que era o primata dos bispos polacos, convidou toda a gente com um apelido polaco para almoçar e convidou-me, por causa do meu apelido, mas eu não era polaco [risos]. E eu fui ao almoço, numa rua perto do tribunal, perto do Vaticano. Cheguei e quando chegou a hora de ir para a mesa, Wyszynski, que era como um príncipe para os polacos, sentou-se à cabeça da mesa e sentou-me à sua direita e do outro lado um jovem bispo chamado "Lolek". E estávamos a comer, a falar..., em suma, tornámo-nos muito bons amigos e quando acabámos de comer, o cardeal perguntou-me se eu tinha trazido um carro. Eu disse-lhe: "Entrei num táxi. Disse então a "Lolek", "Leve-o embora". "Lolek" foi Karol Wojtyła, é claro. Então ele deu-me boleia num pequeno Fiat e ficámos amigos. E tentámos e procurámos um pelo outro e tudo. Tinha mais ou menos a minha idade, um pouco mais velho do que eu. Eu gostava dele porque era muito acessível. Depois escrevemos um ao outro e de repente, quando o conclave para eleger o sucessor de João Paulo I, um dia o Cardeal Corripio, que na altura não era um cardeal, falou comigo e disse-me: "Hey, não ouviste na rádio que o papá saiu com um apelido muito estranho, 'Woj-something'? Penso que ele deve ser um africano".. E liguei a rádio e ouvi dizer que o meu amigo tinha sido eleito papa. Enviei-lhe algumas cartas a dizer-lhe que estava feliz por o Papa ser meu amigo. E quando ele ia a Roma, escrevia-lhe dizendo-lhe que eu ia e ele convidava-me sempre para concelebrar, ou para almoçar ou tomar o pequeno-almoço. Sempre que eu ia, ele convidava-me. O Papa era meu amigo, e ele era o meu motorista.

Já passaram vários meses desde a viagem apostólica do Papa Francisco ao México. Qual é a sua avaliação?
-O Papa é o homem da Igreja para este momento, e a visita é, todos nós percebemos, a visita de um Pastor. Ele veio como Pastor, não se importava se eram ovelhas ou cabras ou sabe Deus o quê. Falou a todos como membros da família humana e veio fazer o que muitas vezes disse: viver a liturgia do encontro. Para viver a liturgia do encontro, cada um de nós tem de conhecer a sua personalidade, o seu temperamento. Com o temperamento que Deus nos deu, devemos ser pessoas de bom carácter, por isso não devemos ser briguentos. Conhecendo o carácter de cada um, devemos compreender que não somos o mesmo, que somos diferentes. Por conseguinte, devemos viver a diversidade, e na diversidade devemos lidar com aqueles que acreditam e com aqueles que não acreditam. Somos diversos. Somos diversos. O que é que temos de fazer? Procura o bem comum, e essa é a teologia do encontro que o Papa veio a perceber agora que está no México.

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