América Latina

A Igreja Sinodal marca a Assembleia Eclesial Latino-Americana

O sonho do Papa Francisco de uma "Igreja sinodal", com três chaves fundamentais - comunhão, participação e missão - tem sido o foco dos trabalhos da Assembleia Eclesial da América Latina e das Caraíbas, que termina hoje, domingo, no México.

Rafael Mineiro-28 de Novembro de 2021-Tempo de leitura: 5 acta
assembleia de abertura

Foto: Abertura da Assembleia. Fotografia CNS/Emilio Espejel

No domingo passado, o Papa Francisco dirigiu-se aos participantes da Assembleia Eclesial da América Latina e das Caraíbas, reunidos na Cidade do México, com o desejo de "promover uma Igreja em alcance sinodal, para reavivar o espírito da Quinta Conferência Geral do Episcopado que, em Aparecida, em 2007, nos chamou a ser discípulos missionários, e a encorajar a esperança, prevendo no horizonte o Jubileu de Guadalupe em 2031 e o Jubileu da Redenção em 2033"..

No seu MensagemO Pontífice agradeceu a todos pela sua presença nesta Assembleia, "que é uma nova expressão do rosto latino-americano e caribenho da nossa Igreja, em harmonia com o processo preparatório da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, cujo tema é "O rosto latino-americano e caribenho da nossa Igreja". Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão".

Com base nestas chaves que "estruturam e orientam a sinodalidade", o Papa exortou "a ter em conta duas palavras de uma forma especial nesta viagem que estão a fazer juntos: ouvir e transbordar". E ele explicou brevemente o seu significado.

Sobre "ouvir", disse: "O dinamismo das assembleias eclesiais está em processo de escuta, diálogo e discernimento. "A troca torna mais fácil ouvir a voz de Deus até ouvirmos com ele o grito do povo, e ouvir o povo até respirarmos neles a vontade a que Deus nos chama. "Peço-vos," acrescentou o Papa, "que tenteis ouvir-vos uns aos outros e ouvir os gritos dos nossos irmãos e irmãs mais pobres e esquecidos".

Quanto ao "transbordamento", o Santo Padre salientou que "o discernimento comunitário requer muita oração e diálogo para encontrar a vontade de Deus juntos, e requer também encontrar formas de ultrapassar as diferenças para que não se tornem divisões e polarizações.

Neste processo, peço ao Senhor que a vossa Assembleia possa ser uma expressão do "transbordamento" do amor criativo do seu Espírito, que nos impele a sair destemidamente ao encontro dos outros, e que encoraja a Igreja a tornar-se cada vez mais evangelizadora e missionária através de um processo de conversão pastoral".

O Pontífice encorajou assim todos a viverem estes dias "acolhendo com gratidão e alegria este apelo ao transbordamento do Espírito no fiel Povo de Deus em peregrinação na América Latina e nas Caraíbas".

Numerosos Cardeais e Arcebispos

Milhares de participantes participaram na Assembleia Eclesial, uns pessoalmente e outros em linha. Pode ver aqui um guia para a Assembleia numa versão popular. A presença de cardeais da Cúria do Vaticano e outros cardeais e arcebispos da América Latina e de outros lugares foi notável.

O Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina; Mario Grech, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos; o hondurenho Óscar Rodríguez Maradiaga; o peruano Pedro Barreto, Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazónica (REPAM); o Arcebispo do Luxemburgo, Jean Claude Hollerich, Presidente das Conferências Episcopais Europeias; Oswald Gracias, Arcebispo de Bombaim; o Burmês Charles Maung Bo, Arcebispo de Yangon, Presidente da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas; naturalmente o Arcebispo Miguel Cabrejos, Presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), e também o Secretário do Dicastério da Comunicação, Monsenhor Lucio Ruiz, entre outros prelados, juntamente com o Secretário Geral da Pontifícia Comissão para a América Latina, Rodrigo Guerra.

Ouvir o Espírito Santo

"Qual é o sonho de uma Igreja sinodal, uma nova moda, uma estratégia de comunicação, uma ideologia disfarçada de programa pastoral, um método para a conversão missionária da Igreja? Com estas perguntas, o Cardeal Marc Ouellet começou por explicar na sua intervenção que para além das questões e dúvidas que possam surgir sobre o sonho do Papa Francisco de uma Igreja sinodal, a realidade é muito simples.

"O Papa acredita no Espírito Santo", salientou o cardeal, e "quer que aprendamos a ouvi-lo melhor a todos os níveis da Igreja, desde o último bairro das grandes metrópoles da América Latina até ao topo do colégio de pastores, passando por paróquias, universidades, associações, camponeses, movimentos populares, culturais e sociais, etc.".

Segundo o Prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Ouellet, "o ponto central é ouvir atentamente o que o Espírito Santo diz a cada um e a todos, "sem pressa, sem ideias preconcebidas ou preconceitos, sem induzir no momento da consulta o que gostaríamos de promover como modelo da Igreja", informou o Vatican News.

Neste sentido, o presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina salientou que o Papa espera que, a partir da experiência de fé, "todos nós possamos contribuir para renovar os nossos corações, o nosso cuidado pastoral e as nossas estruturas, para que a Igreja possa viver cada vez mais de acordo com o estilo de Jesus".

Dimensões da Igreja Sinodal

O Cardeal do Vaticano também sublinhou as três dimensões de uma Igreja sinodal, que o Papa Francisco delineou para nos guiar na escuta do Espírito Santo. São comunhão, participação e missão.

"A participação significa despertar a fé, para que todos partimos numa viagem, que vamos a Jesus, que encontramos Maria na sua Cruz, que nos reunimos no Cenáculo para comungar no seu Corpo e Sangue, que saímos às ruas para dar testemunho da sua ressurreição e para proclamar as maravilhas do seu Espírito de Vida nova e eterna, a Vida do Ressuscitado partilhada e celebrada no nosso baptismo", disse o Cardeal Ouellet.

Antes de concluir, o Cardeal felicitou o CELAM pelos seus esforços na organização desta Assembleia em tempos de pandemia, em que a figura da Virgem Maria desempenha um papel fundamental, para além da devoção popular, uma vez que, acrescentou, "a Igreja Sinodal na América Latina será mariana ou não será".

"Não o digo por mera devoção", acrescentou, "digo-o por causa dos factos que tornam necessário pensar sobre o futuro da América Latina à luz da viagem mariana das nossas igrejas ao longo dos séculos. A experiência de São Juan Diego no encontro com a Virgem de Guadalupe, em trazer boas notícias ao Bispo Zumárraga, e no final, em estar disponível para construir a comunhão e a reconciliação, educa-nos na verdadeira sinodalidade que pode renovar a Igreja", concluiu.

Relação entre sinodalidade e missão

O Cardeal Mario Grech, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, salientou o enorme valor de aprofundar a ligação entre a sinodalidade e a missão. "Estas duas dimensões da Igreja podem ser uma das contribuições mais significativas desta Assembleia e da viagem sinodal da nossa Igreja", disse ele.

Tendo em conta a história desta Assembleia e citando as fases de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida, "como etapas de uma viagem pós-conciliar, em que as Igrejas da América Latina e das Caraíbas viveram uma extraordinária experiência de comunhão eclesial", o Cardeal Grech sublinhou a abordagem de conversão pastoral promovida também pela Exortação Apostólica Evangelii gaudium.

"Este evento representa uma expressão da visão pastoral do Papa Francisco. Esta Assembleia representa também uma ponte entre o Sínodo sobre a Amazónia - Querida Amazónia como uma experiência verdadeiramente transformadora para a sua região e o Sínodo sobre a Sinodalidade. Estão explicitamente ligados através da abordagem centrada na periferia e na Eclesiologia do Povo de Deus", acrescentou o cardeal.

Na sua opinião, existe uma relação estreita entre sinodalidade e missão. "Estas são duas dimensões constitutivas da Igreja, que - precisamente por serem constitutivas - permanecem ou caem juntas. Tente pensar no cenário de missão de uma Igreja não-sinodal; uma Igreja em que não caminhamos juntos, não procedemos em nenhuma ordem em particular, cada um reivindicando o direito à missão", especificou ele.

O Cardeal Grechci dirigiu-se também ao Papa Francisco no Evangelii gaudium (nn. 115 e 117), para sublinhar a ideia de "traduzir o único Evangelho de Cristo no estilo latino-americano". Isto "não ameaçará a unidade da Igreja", disse, mas enriquecê-la-á, "mostrando que a Tradição não é um cântico em uníssono ou uma linha melódica de uma única voz, mas uma sinfonia, onde cada voz, cada registo, cada timbre vocal enriquece o único Evangelho, cantado numa infinita possibilidade de variações", relatou a agência oficial do Vaticano.

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