Experiências

Usando a arte na aula de Religião, um recurso pedagógico

Omnes-18 de Março de 2018-Tempo de leitura: 8 acta

Uma imagem vale mais que mil palavras, diz o conhecido ditado. E é isto que aqui é sugerido aos professores de Religião como um dos possíveis recursos pedagógicos para o ensino da disciplina: explicar as verdades da fé cristã com a ajuda do grande número de obras pictóricas que podem ser encontradas nos museus.

- Arturo Cañamares Pascual

Como a beleza é uma propriedade das coisas criadas, e tudo o que existe foi criado por Deus (ou pelos seres humanos, que também foram criados e amados por Deus), o ensino usando a beleza aproxima-nos mais da contemplação de Deus.

Os filósofos dizem que a beleza é uma transcendência do ser: é o gosto pela verdade e bondade naquilo que vemos. Quando contemplamos algo de belo, isso causa-nos prazer, atraindo o nosso olhar ou audição.

A beleza na arte é uma epifaniauma manifestação de Deus para a humanidade (cfr. Carta aos artistasJoão Paulo II). Graças aos artistas, o mistério de Deus é mais acessível (cf. Insegnamenti IIPaulo VI).

Velázquez com a sua pintura Cristo Crucificado ou Mel Gibson com o seu filme A Paixão aproximaram-nos do surpreendente mistério da morte do Senhor; o mistério do Natal mostrado na sua simplicidade por S. Francisco na sua primeira Natividade "viva", ou graças a tantas representações de Belém nas nossas casas com as figuras clássicas, tornam mais fácil para nós compreender e viver esse mistério.

O mundo precisa de beleza para não cair na monotonia, na tristeza ou no desespero. A beleza, como a verdade, semeia alegria no coração dos homens; é o fruto precioso que resiste à usura do tempo, que une as gerações e as faz comunicar em admiração. A beleza, disse Platão, é como um abalo que nos desperta do nosso sono, nos faz sair de nós mesmos e nos levanta.

De alguma forma, Deus torna-se presente na beleza. Quão apropriado foi o título da exposição de arte religiosa durante a JMJ 2011 no Museu do Prado: A Palavra fez imagem!

A experiência da beleza é necessária para a busca de sentido e felicidade, pois aproxima-nos da realidade e ilumina-nos (Discurso aos artistasBento XVI).

Von Bhaltasar, diz que o via pulchritudinisO caminho da beleza, o caminho da beleza, faz-nos caminhar para a contemplação do que é verdadeiro e bom. Mas quando alguém rejeita a beleza, então já não pode rezar e, no final, não será capaz de amar.

Os grandes místicos (Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz) contemplaram Deus e apaixonaram-se pela sua Beleza, que viram no canto de um passarinho, num rio, numa escultura de Cristo...

Diz-se muitas vezes que não há conta do gosto. Tem a certeza? Há muito que tem sido pensado e escrito sobre gostos. O belo é agradável: a Imaculada Conceição de Murillo, a Requiem de Mozart, ou um presépio de Salzillo ou Mayo são agradáveis para todos, mesmo que seja mais difícil para alguns compreendê-los e assim desfrutá-los melhor. E o contrário: o que é desagradável, mesquinho ou provocador é contrário à dignidade humana; degrada aqueles que o fazem e aqueles que o vêem. Um filme, um programa de televisão ou uma pintura feita com repugnância é um insulto ao mais nobre dos seres humanos. É o que se procura numa sociedade que abraça a incoerência do relativismo, que rejeita a verdade e, portanto, também evita a beleza que nos mostra essa verdade.

A aula de religião é um cenário privilegiado para o ensino utilizando a beleza. Confiar na história e na cultura com as suas várias manifestações artísticas abre os sentidos ao transcendente e facilita a compreensão do que estamos a tentar explicar.

Recordemos alguns recursos práticos que podem enriquecer uma aula e torná-la mais atractiva: usar a arte na sala de aula, falar com imagens faz com que o conteúdo se sinta familiar, próximo, possível, ligado à própria vida (cfr. Evangelii Gaudium(Papa Francisco). O seu uso é legitimado pelo próprio Jesus, o Mestre, que costumava ensinar parábolas, comparações cheias de beleza e acessíveis àqueles que as escutavam.

Os ensinamentos de Jesus não perderam o seu valor, porque a beleza é estável. Servem e atraem todos aqueles a quem são oferecidos: A parábola do filho pródigo ou a parábola do Bom Samaritano é uma forma extraordinária de ensino que o Senhor utilizou. A própria vida de Jesus, se for bem explicada, também atrai, porque Ele é Verdade e Bondade, e portanto a Beleza suprema.

Na aula de Religião é muito bom usar o método que Jesus usou e que os teólogos chamam sinkatabasis (condescendência, humilhação), que é colocarmo-nos ao nível daqueles que nos ouvem, para que nos compreendam e tornem a nossa língua acessível. Em muitos casos, uma imagem artística vale mais que mil palavras. Depois, quando tiverem compreendido a mensagem que o artista dessa obra propõe, temos de ajudar os nossos estudantes a elevarem-se, indo para além da tela ou da escultura que temos diante de nós, à contemplação da Beleza suprema, que é sempre Deus.

Muitos exemplos podem ajudar-nos. Neste Ano de Misericórdia pode ajudar-nos a explicar o logotipo do Bom Pastor com o seu lema "Misericordioso como o PaiPodemos também explicar o significado da Porta Santa. Podemos também contar com a utilização de pinturas bem conhecidas, tais como a Regresso do filho pródigo por Rembrandt ou Murillo.

Na pintura, somos afortunados por termos um grande número de obras de arte que nos podem ajudar no nosso trabalho como professores. No final do artigo, proponho alguns deles como exemplos.

Com crianças pequenas podemos também conseguir que se expressem artisticamente desenhando um evento bíblico que explicámos. Por exemplo, pedi aos meus alunos para desenharem a ressurreição de Lázaro de que lhes tinha acabado de falar, e no dia seguinte trouxeram-me desenhos que poderiam ter sido utilizados para organizar uma exposição.

Na escultura, temos o privilégio de ter uma grande iconografia de obras sobre o nascimento de Jesus (por exemplo, os presépios de Francisco Salzillo), a Páscoa (por exemplo, o O Cristo ferido de Santa Teresapor Gregorio Fernández), imagens da Virgem Maria (o Imaculada por Alonso Cano), etc.

No que diz respeito à arquitectura, o tesouro de basílicas, mosteiros e catedrais, ou a igreja paroquial mais próxima, é muito apropriado para mostrar aos nossos estudantes o que o tema da Religião tem para lhes oferecer.

A música é também uma manifestação artística muito útil; tanto a música clássica, criada para louvar o Senhor por compositores de renome internacional, como a letra das canções litúrgicas que usamos na Eucaristia dominical.

Tragamos aqui algumas obras para servir de exemplo: duas sobre o Natal e uma sobre a Morte do Senhor.

Adoração dos pastores

Os pastores foram os primeiros a receber a boa nova do nascimento do Menino Jesus: um coro de anjos canta e contempla Jesus à medida que os pastores se aproximam para o adorarem e fazerem companhia à Sagrada Família. São José, à esquerda, de braços abertos, olha de surpresa para a Criança e medita sobre o que os pastores disseram: que os anjos lhes falaram do nascimento do Messias há muito esperado.

A Virgem Maria olha suavemente para Jesus e reza em alegre silêncio. Os pastores acompanham Jesus. Um deles, aquele que se ajoelha com um pequeno cordeiro como presente aos seus pés, é o próprio pintor, que se quis representar desta forma.

O boi não quer perder um detalhe e vigia de perto o Filho de Deus. Um burro, perdido na escuridão, descansa, talvez depois de uma cansativa e difícil viagem - lembre-se que Maria estava em trabalho de parto - de Nazaré a Belém para fazer o censo, e agora sente-se sem importância num momento tão grandioso e só o seu focinho pode ser visto (à direita, ao lado das calças azuis do pastor).

Um dos anjos leva um cartaz com o primeiro cântico da história: "Glória a Deus nos céus e na terra paz aos homens...". No meio da escuridão da noite, Jesus é a luz do mundo que ilumina as trevas da humanidade: Ele traz-nos a paz, agora que ela é tão necessária.

O autor não precisou de mostrar a cena num estábulo frio, como se pode ver no fundo; pelo contrário, quis apresentar-nos com o Senhor rodeado por uma gruta feita de amor: como a cúpula ou tecto desta gruta de amor são os anjos a cantar alegremente, e as paredes são a Virgem Maria, o seu marido São José e os próprios pastores, incluindo El Greco, como mencionado acima.

A Sagrada Família do Passarinho

A cena evoca as tarefas diárias da Família de Nazaré. A Virgem Maria, Mãe de Deus, está a enrolar uma meada de fio (o movimento da roda giratória é sugerido, como Velázquez fez na sua famosa pintura de The Spinners), enquanto São José, descansando por um momento do seu trabalho (ver as ferramentas do seu carpinteiro), ensina algo a Jesus. Maria e José estão a olhar para a Criança. Desta forma, o autor explica-nos a naturalidade que se vivia na casa sagrada, entre o trabalho ordinário bem feito e a atenção em fazer felizes as vidas dos outros. Com esta simplicidade, temos de tratar Cristo e oferecer-lhe o nosso trabalho (estudo) bem feito. Além disso, há outro significado contido no quadro: Jesus protege o passarinho (a nossa alma) das mandíbulas do diabo (cão, que se apresenta como uma pessoa de boa natureza, porque o diabo mente sempre, tornando a tentação atraente). Se estivermos com o Senhor, estaremos sempre protegidos.

Vamos terminar com o quadro que o Papa Francisco mais gosta e que ele próprio já utilizou várias vezes na sua catequese. Estou certo de que aqueles de vós que ensinam nos últimos anos da ESO ou em Bachillerato irão gostar, de o aplicar numa aula sobre a história da Igreja.

Crucificação branca

Testemunhamos com tristeza o sacrifício de Cristo, que morreu na cruz para redimir a humanidade. Tudo está envolto na escuridão (em tons frios: cinzento) representando os sofrimentos e angústias da humanidade: ódio de uns pelos outros, guerras e toda a dor da humanidade. O mundo é iluminado por um raio de luz que vem do céu e nos mostra Cristo como o nosso salvador.

À direita, os judeus são perseguidos pelos nazis e a sua sinagoga é queimada (significando ódio à religião). Acima da porta da sinagoga estão as Tabuletas da Lei, a Estrela de David e o leão de Judá, numa clara alusão aos judeus.

sion às profecias messiânicas. Os objectos caem ao chão, incluindo a Torá (bíblia judaica) rolando para longe. Alguns judeus fogem com o que podem (um leva outros livros ou pergaminhos da Bíblia; uma mulher com o seu filho no colo...).

À esquerda, a revolução russa destruindo casas (uma clara alusão à luta contra a propriedade privada) e o seu ódio à religião. Bandeiras e soldados, casas queimadas e feridos podem ser vistos.

É o horror da guerra: tudo o que é humano representado no "mar do humano", onde vemos o barco de Pedro (a Igreja), que não afunda, porque Cristo está nele, como no milagre da tempestade calma: Jesus dormiu enquanto os apavorados apóstolos se aperceberam que não havia nada que pudessem fazer para salvar as suas vidas. Por isso voltaram-se para o Senhor e suplicaram-lhe: "Senhor, nós perecemos!"E Cristo repreendeu o vento e o mar e seguiu-se uma grande calma. No meio das dificuldades que a Igreja tem tido historicamente (Império Romano, bárbaros, etc., na Antiguidade; e mais actualmente com o Iluminismo, revoluções marxistas, etc.), Jesus tem estado sempre no barco da Igreja. Se parece estar a afundar-se agora, só temos de rezar a ele e Jesus agirá.

Há uma escada ao lado da Cruz. É a escada que José de Arimatéia usou para levar Cristo para baixo e enterrá-lo. Mas essa escada tem um significado muito mais profundo: é a nossa fé, a resposta do homem ao chamamento e salvação de Deus. Temos de subir e abraçar a Cruz para alcançar a felicidade.

Jesus é o Messias esperado pelos judeus: o candelabro era uma figura da presença de Deus entre o seu povo escolhido; esse candelabro está ao pé da cruz.

Finalmente, Deus o Pai é visto no céu chamando à felicidade e felicidade com Ele aqueles que sofreram a morte nestas guerras, desde que aceitem a salvação oferecida por Cristo.

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