América Latina

Pedro BrassescoO continente latino-americano tem a sua própria história marcada pela sinodalidade".

Pedro Brassesco, Secretário-Geral Adjunto do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), sublinha que a sinodalidade "reforça a missão porque torna a Igreja mais atractiva".

Federico Piana-19 de Maio de 2022-Tempo de leitura: 4 acta
CELAM brassco

Pedro Brassesco na Basílica de Guadalupe

"O primeiro grande fruto? A mesma prática sinodal que começou nas comunidades e paróquias com a escuta do Espírito Santo que fala através do Povo de Deus", diz o Padre Pedro Brassesco.

Brassesco é secretário geral adjunto do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), o órgão eclesial que reúne os bispos da América Latina e das Caraíbas, e está a fazer o balanço da viagem sinodal em curso até à fase universal prevista para 2023.

"A fase continental latino-americana terá início em Novembro próximo, quando o Secretariado do Sínodo publicará o Instrumentum Laboris que reúne a síntese do trabalho realizado por cada país. Entretanto, o CELAM está a encorajar as Conferências Episcopais locais a continuar nesta fase diocesana e nacional", diz Fr. Brassesco.

Com que instrumentos está o CELAM a ajudar as Conferências Episcopais?

- Criámos uma comissão chamada "CELAM no caminho para o Sínodo" com a qual organizaremos também a fase continental, obviamente em coordenação com o Secretariado do Sínodo. Acreditamos que esta etapa deve ser caracterizada por um encontro continental e estamos a analisar as várias possibilidades de desenvolvimento: presencial ou híbrido; regional ou por país. É um caminho que devemos seguir para que as contribuições do continente reflictam as suas particularidades e diversidades.

Quais são os frutos gerados até agora por esta viagem sinodal?

- Um dos frutos mais importantes é ouvir os membros do Povo de Deus, porque cada membro tem uma voz e é reconhecido como um sujeito dentro da Igreja. Não se trata de lidar com um tema específico para tirar conclusões, mas sim de um exercício sinodal.

Quais são as dificuldades?

- Alguma resistência à própria ideia de sinodalidadeespecialmente de alguns sectores clericalizados. Alguns padres também tiveram dificuldade em entusiasmar-se, talvez por causa do cansaço, sobrecarregados por pesadas tarefas pastorais ou enfraquecidos pela decepção com resultados que ficaram aquém das suas expectativas.

Outra dificuldade está ligada às distâncias, tanto geográficas como existenciais. Todos deveriam ser capazes de ouvir, mas a consulta limita-se muitas vezes apenas a actividades comunitárias e litúrgicas. Apesar disso, no entanto, muitas dioceses lançaram iniciativas muito interessantes para chegar a sectores cujas vozes nem sempre são ouvidas.

O que representa a sinodalidade para o continente latino-americano?

- O continente latino-americano tem a sua própria história marcada pela sinodalidade como um estilo eclesial.

A partir do final do século XVI, os sínodos e conselhos eram muito frequentes neste território.

As criações do CELAM e das cinco Conferências Episcopais Gerais do Episcopado foram o sinal concreto deste "caminhar juntos" da Igreja Latino-Americana. Nos últimos anos, muitas dioceses têm também retomado a prática de organizar assembleias ou sínodos nos quais os horizontes e a acção pastoral da Igreja particular são delineados.

O processo da Assembleia Eclesial da América Latina e das Caraíbas representou uma instância sem precedentes de participação e comunhão para discernir em conjunto sobre os desafios pastorais dos próximos anos.

A sinodalidade irá afectar a comunhão e a missão?

- Sim, uma coisa é certa: a sinodalidade põe em acção a comunhão, torna-a real e tangível em situações e processos concretos. Posteriormente, transforma a comunhão num estilo, uma forma de ser Igreja marcada por relações de escuta e respeito. E depois a sinodalidade reforça a missão porque torna a Igreja mais atraente, transforma-a num testemunho vivo de unidade na diversidade. Uma Igreja sinodal não desperdiça as suas energias obcecada com a preservação do poder e das estruturas, mas deixa-se animar pela novidade do Espírito Santo que abre novos espaços de encontro e de evangelização.

O CELAM realizou recentemente uma semana de reuniões virtuais sobre o Sínodo. Quais foram os objectivos destas reuniões?

- As reuniões foram realizadas para facilitar a escuta e o diálogo e contaram com a participação das várias equipas de animação sinodal das Conferências Episcopais. O trabalho foi muito frutuoso e constatámos que o processo sinodal foi bem recebido em quase todas as dioceses.

Na sua opinião, como irá o Sínodo mudar a Igreja na América Latina e nas Caraíbas?

- Creio que o Sínodo é uma etapa de um processo mais longo. Não se podem esperar mudanças imediatas porque a sinodalidade está intimamente ligada a uma conversão pastoral que não pode ser imposta.

O Sínodo, como prática, faz-nos perder o medo de ouvir todo o Povo de Deus, cuja participação deve ser valorizada.

Estou certo de que o Sínodo confirmará o nosso compromisso de transformar as estruturas eclesiais, mas isto não é suficiente: será certamente necessário continuar a dar novos e frutuosos passos.

Na Amazónia, por outro lado, como se está a desenvolver a viagem sinodal?

- As Conferências Episcopais, nas suas reuniões com as equipas de animação, fizeram-nos saber que nós, na Amazónia, estamos a participar entusiasticamente na viagem sinodal.

Foi também salientado que a experiência de ouvir no Sínodo para a Amazónia foi um ponto de partida fundamental.

Apesar de tudo, existem obstáculos que impedem uma maior inclusão no processo sinodal: as grandes distâncias, a dificuldade de alcançar as comunidades e a falta de conectividade. Mesmo assim, foram feitas experiências muito significativas e criativas para se conseguir uma maior participação.

A Conferência Eclesial da Amazónia (CEAMA) foi convidada a realizar o seu próprio acompanhamento do Sínodo e decidiu encorajar e promover a participação nas respectivas dioceses de modo a não gerar um processo de escuta dupla. Posteriormente, na fase continental, serão oferecidas contribuições concretas, que são necessárias para reflectir sobre realidades concretas.

O autorFederico Piana

 Jornalista. Trabalha para a Rádio Vaticano e colabora com L'Osservatore Romano.

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