Livros

Sanidade e cordialidade no amor entre cônjuges

A chave do romance de Austen é o equilíbrio necessário entre a razão e a emoção. São as paixões ordenadas que constituem uma personalidade completa. 

José Miguel Granados-26 de Fevereiro de 2021-Tempo de leitura: 3 acta
Sentido e sensibilidade. Akiko Florence Minowa

Foto: Sentido e Sensibilidade. Akiko Florence Minowa

Os protagonistas do romance Sentido e Sensibilidadepela escritora inglesa vitoriana Jane Austen, são duas irmãs jovens: a mais velha, Elinor, e a mais nova, Marianne. Ambos são muito delicados e afectuosos. O primeiro, equilibrado e prudente. O segundo, excessivamente apaixonado. Na sua situação precária de empobrecimento, após a viúva da sua mãe, têm de enfrentar várias situações e relações difíceis.

De facto, o tema desta história - que, com outras variações, reaparece como tema central no resto das obras deste grande autor de ficção - é como combinar duas atitudes decisivas na vida: por um lado, o sentido, que significa bom senso, reflexão, inteligência, juízo considerado; por outro, a sensibilidade, que significa emocionalidade poderosa e ordenada, um coração que sabe amar verdadeira e desinteressadamente.

O a síntese de ambos é a sabedoria e a ordem dos afectosO equilíbrio com que a razão guia a paixão, a contenção certa da impulsividade, o controlo e a canalização da afectividade, e a cautela nas acções que podem prejudicar os compromissos. É o equilíbrio com que a razão guia a paixão, a contenção certa da impulsividade, o controlo e a canalização da afectividade, a cautela nas acções que podem prejudicar os compromissos, para que atinjam o seu objectivo de construir uma comunhão interpessoal saudável, bela e frutuosa.

Perfil do livro

Título:Sentido e Sensibilidade
Autor:: Jane Austen
Editorial:Peguin Classics
Ano: : 2015
Páginas: : 376

A orientação da razão não implica de forma alguma esvaziar ou anular a afectividade, mas sim canalizá-la de forma justa, de acordo com a dignidade das pessoas. O desenvolvimento do carácter envolve forjar uma vontade forte, perseverante, firme no que é bom; adquirir clarividência, acompanhada de reflexão, discernimento e conselhos para tomar as decisões certas; ganhar auto-controlo para se libertar da teimosia do egoísmo intemperado. A sensibilidade, por outro lado, ilumina Toda a vida com o seu encanto e cor, dotando-a de ilusão e brilho, afecto e vibração. Trata-se portanto de amar de forma justa e realista, mas ao mesmo tempo intensa e apaixonada.

As paixões e desejos não são em si mesmos prejudiciais, mesmo no nosso estado de natureza ferida. Eles são a própria energia que motiva a acção humana. A virtude - cultivada através de um profundo processo educativo, com bons professores e ambientes de crescimento, e com a ajuda da graça divina - não suprime de forma alguma as paixões, que são a sua própria matéria, mas ordena-lhes que cumpram as prescrições da prudência, a fim de contribuir para o bem. A virtude é uma concordância do apetite sensível com a razão, o que reforça a própria identidade.

Virtudes como a fidelidade, paciência, cordialidade, bondade, alegria, discrição, compaixão, humildade, magnanimidade, vontade de servir, disponibilidade, generosidade ou perseverança, constituem qualidades estáveis valiosas que tornam o indivíduo mais livre e mais apto para a arte de viver em conjunto, mais consciente e lúcido, mais preparado para realizar actos nobres de qualidade humana. São competências éticas da pessoa, a fim de empreender excelentes acções. Moldam personalidades equilibradas, confiantes, capazes; conferem naturalidade, facilidade e gosto para se orientarem para o melhor, mesmo que seja difícil; modelam a espontaneidade, integrando as várias qualidades para o que é apropriado na vida concreta; conduzem à perfeição na autodoação. Além disso, o Espírito Santo influencia estes mesmos dinamismos e transforma a mente e a vontade do crente com os seus dons, configurando-o ao coração de Cristo.

A irmã mais velha, Elinor, manifesta esta maturidade interior, que combina sanidade e cordialidade, rectidão e ternura. Respeita sensatamente as formas ou convenções sociais limitadas mas necessárias como um meio de preservar a intimidade e evitar surpresas desagradáveis, mal-entendidos e enganos, que levam ao uso e degradação das pessoas. Tal como a sua irmã mais nova, Marianne, ela não se deixa levar por um emocionalismo ingénuo e desastroso, que sacrifica tudo ao ímpeto ardente do eros maluco. No final, Elinor demonstra que tem um coração sábio e prudente, que ama intensamente e de forma oportuna e apropriada. Pois só a pessoa que adquiriu uma harmonia adequada entre razão e paixão é verdadeiramente livre de amar e está interiormente preparada para a vocação esponsal.

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